terça-feira, 15 de novembro de 2011

QUANDO UM FILME DE 1966 TEM UMA IMAGEM DE SEIOS CENSURADA EM 2011, TEM-SE CERTEZA DE DUAS COISAS: 1- O FILME É GENIAL; E 2 –TEMPOS CRUÉIS NÓS VIVEMOS!

Costumo defender entre meus interlocutores e amigos a primazia do Faroeste enquanto gênero cinematográfico inteligente e instigante. Vendo o clássico “Os Profissionais” (1966, de Richard Brooks) no canal TCM, há pouco, pude comprovar mais uma vez a minha tese. Para minha surpresa, numa dada cena em que uma personagem feminina tenta seduzir um mulherengo a fim de escapar do que parece ser um cativeiro de resgate, uma mancha artificial cobriu a tela: era a censura, distorcendo a imagem original de uma obra surpreendente que, com certeza, causou muito burburinho no ano em que foi lançada.

A ponto de partida tramático do filme não poderia ser mais corriqueiro: um rico latifundiário (Ralph Bellamy) contrata quatro mercenários para resgatar a sua bela esposa, alegadamente raptada por um revolucionário mexicano: um dos profissionais contratados para este resgate (Lee Marvin) fora amigo do revolucionário (Jack Palance) em sua juventude e, portanto, compreende seus motivos; outro deles (Burt Lancaster), confessadamente romântico e especialista em explosivos, compreende os motivos da mulher seqüestrada (Claudia Cardinale), que logo se confessa apaixonada por aquele que seria seu raptor; um terceiro (Woody Strode) é um hábil arqueiro, a ponto de, num momento irônico da narrativa, alguém se perguntar como os brancos conseguiram vencer os índios, hábeis manipuladores do arco e flecha [detalhe: o arqueiro em pauta é negro]; e, por fim, um quarto homem (Robert Ryan), calado e efetivo em sua diligência mortífera.

Num dado momento do filme, os quatro mercenários deparam-se com uma dezena de homens potencialmente vilanescos. Matam-nos sem pestanejar, sobrando dez cavalos famintos e sem cavaleiros. Um dos personagens mata um dos cavalos e quando ordena alguém a matar os nove restantes, ouvem-se gritos de recusa. “Vocês mataram sem escrúpulos dez homens mas titubeiam quando são ordenados a sacrificar um dos mais estúpidos animais já criados por Deus?!, pergunta-se alguém. E, bem antes disso, eu sabia que estava diante de um filme genial. Não apenas efetivo em seu discurso de gênese moral (para além das exigências genéricas de Hollywood), mas um filme de autor, em que o tempo é o principal inimigo para um caso de amor, em que causas revolucionárias sacrificiais são defendidas com fervor, em que as definições tradicionais de heróis e vilões são sabiamente invertidas e redirecionadas. Um ótimo filme, cuja efetividade vanguardista – no interior das próprias regras do ‘studio system’ – faz entender e tornar injustificável a censura frontal que ainda vem sofrendo nos dias de hoje, prenhes de hipocrisia e conchavos moralistas unilaterais. Maravilha de filme: estou impressionado e apaixonado!

Wesley PC>

Um comentário:

AmericoAmerico disse...

Pow, e não eram quaisquer seios SÃO os seios, minha gente! sacrilégioo!

Américo