sexta-feira, 25 de novembro de 2011

PUBLIQUE-SE A FICÇÃO!

Há algum tempo, eu comentei aqui o meu desagrado com uma série de TV, produzida por Neil Jordan, sobre as atrocidades clericais da família Bórgia. Desgostei das forçações de barra do seriado, também já antecipadas por um episódio fílmico do Walerian Borowczyk sobre a mesma família (vide comentário 'en passant' aqui). Imaginava-me, portanto, incapaz de encontrar uma representação ficcional que fizesse jus aos devaneios históricos relacionados a esta família de cruéis representantes da Igreja Católica no século XV. Até que, entre 2004 e 2008, o roteirista multinacional Alejandro Jodorowsky e o desenhista italiano Milo Manara lançaram a série em quadrinhos “Bórgia”, divida em 3 tomos: “1: Sangue Para o Papa”; “2: O Poder e o Incesto”; e “3: As Chamas da Fogueira”. Li estes três volumes ao longo da semana, graças a um empréstimo de uma grande amiga lasciva, e, puxa, que obras-primas. Ainda agora, estou excitado!

Apesar de um infinitésimo desagrado com algumas hipérboles relacionadas à crueldade papal – que, se eu pensar bem, talvez nem sejam tão exageradas assim (vide a seqüência em que cento e cinqüenta pênis são decepados para chantagear um jovem cardeal pederasta a votar no patriarca da família protagonista como sucessor do papado romano) – fiquei sumamente impressionado com a conjunção de genialidades destes dois brilhantes artistas. O roteiro nos surpreende a cada quadrinho (se bem que, admito, há um leve decréscimo qualitativo no terceiro tomo) e os detalhes das composições manarianas chocam-nos pela riqueza: quando ele se dedicava a pintar um plano geral, era escândalo na certa!

Tentei encontrar a minha imagem favorita dos três livros – a cena em que Lucrécia Bórgia urina numa tigela oferecida por uma bruxa, a fim de fabricar um remédio que lhe permitisse abortar de seu irmão e envenenar outros desafetos – mas não a encontrei. Entretanto, esta fotografia rememorativa do instante em que a principal amante de Rodrigo Bórgia o conheceu, ainda num mosteiro, quando espanava um busto nu de São Sebastião, não apenas me excitou deveras como também serve como brilhante metonímia dos acertos e hipotéticos problemas superinterpretativos (válidos e mui perdoados, diga-se de passagem) desta genial série em quadrinhos. Obra-prima, pura e simplesmente!

Wesley PC>

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gomorra disse...

Eu sou mais apaixonado pelo Jodorowsky, mas os desenhos do Manara são soberbos aqui!

Li cada um dos livros em meu horário de almoço, terça, quaerta e quinta-feira. Um por dia... para que as memórias eróticas ficasses retidas para sempre em algo além de minhas retenções literárias. Soberbos estes quadrinhos!

WPC>