quarta-feira, 2 de novembro de 2011

HÁ ALGO DE PODRE ALÉM DAS FRONTEIRAS HODIERNAS DE SÃO PETERSBURGO...

Criticar a globalização é fora de moda. Elogiar as facilidades midiáticas a ela associadas idem. Mas, mesmo assim, por mais ‘pimba’ que eu me assuma de vez em quando, fico surpreso quando penso que experimentarei apenas o exotismo formulaico espectatorial diante de um filme inospitamente descoberto, mas que se revela muito proveitoso enquanto linguagem e enquanto pólo de identificação emocional: “Todo Mundo Morre, Menos Eu” (2008), da diretora Valeriya Gay Germanika, é um destes casos. Acabo de ver este filme, pensando se tratar de uma mera diversão revoltada adolescente, e me vejo (ou melhor: ouço) agora refém da canção interpretada por Zveri que é executada em cenas-chaves deste filme tão simples e trivial quanto efetivo.

Conforme eu fiz questão de ressaltar noutro lugar, quem está acostumado aos estilos fluidos dalguns filmes de Catherine Hardwicke, Lukas Moodysson ou até mesmo Larry Clark, não se espantará com os arroubos de cólera menstrual desta diretora pós-adolescente, mas a câmera colada na pele de suas meninas e uma cena de estupro semi-consentido e desprovido de sentido atualizado me impressionaram: definitivamente, as três meninas que protagonizam este filme praticam os mesmos erros que eu creio que praticaria se fosse provido com uma vagina. Não tem como não ficar impressiona em primeira pessoa com a renitência discursiva de um filme tão ostensivamente banal como este. Parece que o mote dele é exatamente o desgaste admoestativo e, por isso mesmo, funciona bastante. Gostei muito do filme. Queria que mais e mais pessoas vissem-no...

E, antes, durante e depois da sessão, uma típica sucessão de inconvenientes toxicomaníacos foram desencadeados na residência dos Castro, em que as preocupações de minha mãe e as tendências viciosas de meu irmão caçula convertiam-se em gritos tão incômodos quando redundantes. Num dado momento, meu irmão esquece alguns de seus produtos tóxicos sobre uma pedra do quintal, ao que minha mãe, meio sorridente, pede-lhe: “vá buscar aquilo lá, antes que os ratos fiquem doidões!”. Restou-me sorrir. Por falta de melhor uso de impotência familiar, eu sorri. E foi mais ou menos isso o que o filme mostra (por dentro): por isso, tiro o chapéu para o ínclito título da produção. Só por ele, já merece uma parcela considerável de minha apreciação. E eu sobrevivo...

Wesley PC>

2 comentários:

AmericoAmerico disse...

minha cara mesmooo, me conhece mesmo vc! hahahaha
viva a Rússia!

Pseudokane3 disse...

Eu tinha certeza, certeza, certeza!

Mas me surpreendi mesmo assim com a empolgação! Que bom que funcionou... Mais um vínculo fraterno internacional entre nós! (WPC>)