domingo, 23 de outubro de 2011

“POLÍCIA, ELE ME BATEU NA CARA!” OU PODE UM HOMOSSEXUAL AMAR DE VERDADE OUTRO HOMEM?

Traduzindo para um contexto pessoal: na tarde de ontem, eu estive ao lado de alguém apaixonante, quando me deparei com alguém por quem sou lancinantemente apaixonado. Dormi, acordei e me dispus a ver o clássico “O Direito do mais Forte” (1974), do mestre homossexual Rainer Werner Fassbinder, quando recebo um telefonema anônimo de alguém com tom de voz homossexual perguntando se eu estava em Aracaju. Pelo teor vocal tímido de meu pusilânime interlocutor, ele ansiava por um encontro erótico, algo que, do modo como eu me encontro, definitivamente não posso assentir. Estou cansado de gente fraca e parasitária, por mais que não consiga desgostar delas. Mas vamos falar sobre o filme, que eu ganho bem mais: que filme, que filme!

Já confessei diversas vezes que não conseguia compactuar do amor sincero que muitos dos meus amigos sentiam por este extraordinário cineasta germânico. De uns dias para cá, eu entendi o lesbianismo como uma chave hermenêutica fundamental para o entendimento objetivo de sua obra e, como tal, ando gritando aos quatros ventos que “eu sou sapatão!”. Qual não foi a minha intensa surpresa ao, diante deste filme maravilhoso, me ver em contato subjetivo com uma trama de humilhação sexual masculina em que um proletário que ganha na loteria tem todo o seu dinheiro (e dignidade) extorquido por um burguês mau-caráter e sumamente afetado. E quão pungente é aquele desfecho, em que o protagonista morto tem seus últimos pertences roubados por uma dupla de garotos que encontra o seu corpo jogado numa estação ferroviária. Glupt!

Para tornar o impacto melodramático deste ótimo filme ainda mais efetivo, o diretor e roteirista interpreta também o papel principal, carecendo ficar despido (de corpo e de alma) em mais de uma seqüência. Na cena mostrada em foto, ele pesa-se antes de mergulhar num banho de lama. Numa outra magnânima demonstração do quão sovinas podem ser os homossexuais promíscuos, ele e seu companheiro explorador decidem se foderão ou não com um marroquino bem-dotado (interpretado por El Hedi Bem Salem, amante do diretor) com que se deparam num mercado. Como este marroquino é impedido de entrar nas dependências de um hotel chique em seu próprio País, eles protelam a foda. Mas era tarde: o violento tapa na cara já havia sido desferido contra o espectador identificado com o personagem principal, que, numa cena posterior, realmente estapeia um vendedor de flores que o corteja. Tudo neste filme é dor e abandono. Rainer Werner Fassbinder sabia do que estava falando!

O que me traz de volta ao título desta postagem: pode um homossexual amar de verdade um outro homem? Não sei o que dizer sobre isso, mas, crente de que sim, confesso-me apaixonado por outro homem. Sim, eu amo outros homens, amo mulheres, amo crianças, amo animais, amo um “Deus invisível”, amo o diretor do filme recém-visto, amo quem me ama, quem não me ama, quem parece indigno de ama, quem se demonstra indigno de ser amado, amo, acima de tudo, eu amo! E, se este é o direito do mais fraco, eu o aceito de bom grado: a Wesley, o que é de Wesley!

Wesley PC>

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