sábado, 29 de outubro de 2011

O TEMPO PASSA... QUANDO HÁ AMOR, ESTE FICA!

24 anos separam o excelente “O Homem Mosca” (1923, de Fred C. Niemeyer & Sam Taylor) do filme que vi na manhã de hoje, “As Trapalhadas do Harold” (1947, de Preston Sturges), visto na manhã de hoje. E, entre um e outro, há muito mais em comum do que a mera protagonização do Harold Lloyd! Por mais que o diretor deste último filme tenha optado por continuar a trama de outro filme dirigido pela mesma dupla que conduziu “O Homem Mosca” [“O Calouro” (1925), ainda não-visto por mim], todos os elementos deste filme encontram-se na figura envelhecida – e, para o público, infelizmente fracassada – do Harold Lloyd. Quando, num momento-chave inicial do filme, o protagonista se declara à irmã de seis mulheres já cortejadas por ele com a desculpa de que toda a sua vida ele esteve “apaixonado pela mesma mulher, só que em corpos diferentes”, eu percebi que este era um filme para se assistir de forma muito cautelosa. Nem eu mesmo soube o quanto eu estive correto!

Não obstante a trama ter se perdido do meio para o final (abandonado a crítica severa de costumes ‘losers’ e investindo nas ‘gags’ perigosas que consagraram o astro do cinema mudo), não há como não se demonstrar muito surpreso com a audácia do diretor estadunidense na condução deste filme. Aliás, tendo visto sua obra-prima “Contraste Humanos” (1941 – vide comentário aqui) dia desses, eu deveria esperar tamanha iconoclastia socioeconômica, ainda que o desfecho pareça fazer as pazes com o modelo de sucesso empregatício no ‘american way of life’...

Seja como for, este filme solenemente desconhecido merece ser divulgado: na sua trama, um acidental esportista de juventude é convertido num moroso funcionário de escritório que não progride em sua empresa, com o passar dos anos. Depois que é despedido, declara seu afeto platônico a sua companheira muito mais jovem de trabalho e injustiças e, ao se deparar com um pedinte bastante espirituoso, tem a chance de provar o primeiro drinque alcoólico de toda a sua vida. Inconsciente, mas suspeitoso de que realizou muitos atos inconseqüentes após ter ganhado uma pequena fortuna nas corridas de cabras [num mote que lembra bastante o posterior “Se Beber, Não Case!” (2009, de Todd Phillips), já destacado aqui], ele descobre que adquirido um circo com dezenas de felinos de grande porte passando fome. E o restante da trama eu prefiro não contar, por enquanto, certo de que este preâmbulo enredístico é suficiente para despertar a curiosidade de qualquer portador de senso crítico acerca das qualidades subestimadas deste clássico. Se antes a empolgação já era confirmada a partir de uma única obra, agora confirmo: sou fã de Preston Sturges. Fã! E me identifiquei deveras com o personagem do Harold Lloyd! Tomara que eu não termine como ele... Pois, sim, há um pecado no título. Ops!

Wesley PC>

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