sexta-feira, 2 de setembro de 2011

UM BREVE COMENTÁRIO PESSOAL SOBRE O ÚNICO FILME DIRIGIDO PELA POETISA IRANIANA FORUGH FARROKHZAD:

“Não existe escassez para a feiúra neste mundo. Basta que o homem feche os olhos para que haja ainda mais”: diz um narrador no início do filme. Trata-se de “A Casa é Escura” (1963), único filme dirigido pela poetisa Forugh Farrokhzad, que faleceu num acidente automobilístico, quatro anos depois da realização deste filme, aos 32 anos de idade. Já tinha se tornado imortal, entretanto: além de suas poesias consagradas, a pujança deste filme transcende a sua própria genialidade humanitária. Imaginar a penúria abundante numa colônia de leprosos iraniana impedia-me de comer enquanto via o filme, mas a diretora não espetaculariza a feiúra, não investe a si mesma poderes espúrios de assistente social imagética. Ela comenta sobre o modo como os homens reagem à tal feiúra e, em seguida, mostra os tais “feios” invocando a Deus, sem vitimização excessiva, sem cólera, quiçá sem esperanças, mas com uma determinação que me emocionou. No momento em que via o filme, aliás, uma incômoda dermatite facial insistia em coçar. E a lepra pode ser sanada com tratamentos adequados. Mas quem se dispõe a tratar de uma mazela dermicamente degenerativa tão assustadora? Fiquei emocionado com o descaso sofrido pelos seres humanos abandonados à própria sorte e orfandade. Glupt! E quando eu lembro o contexto em que o título do filme é explicitado, o nó na garganta é ainda mais forte. Clássico iraniano, poético e documental de primeiríssima grandeza!

Wesley PC>

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