segunda-feira, 5 de setembro de 2011

“O QUE EU DAREI DE COMER PARA MINHA MULHER? E PARA O MEU CAVALO?!”

Na página do IMDb reservada ao curta-metragem “O Carroceiro” (1962, de Ousmane Sembene), o participante do elenco Albourah é creditado como “o cavalo”. Não se trata de um ator propriamente dito, mas sim do eqüino que aparece em quase todas as cenas deste lancinante filme, acompanhando o protagonista-título em seu percurso de miséria, injustiça e desolação. Numa das cenas mais socialmente indignantes do filme, um senhor bem-vestido convence o carroceiro a se dirigir a um local desautorizado por lei. A carroça é apreendida e o passageiro foge, deixando o protagonista sem pagamento e sem ter comida para levar para sua casa. A cena final do filme aparentemente resolve o filme, mas, Deus do céu, a que preço!

Vi este filme na tarde de ontem e pensava tê-lo apreendido durante a própria sessão. Quase 24 horas se passaram e o filme continua a me destruir e a me reconstruir por dentro. Tanta dor, tanta miséria, tanta fome... E eu aqui, bem-arrumado, com meu sapatinho novo e minha tigela de azeitonas reclamando da vida. São contextos diferentes, eu sei, mas é nessas situações que eu entendo o quanto eu sou provido de um papel social determinante. Na manhã de hoje, inclusive, um amigo me convidou para passar o feriado vindouro em sua casa. Expliquei-lhe que tenho que ajudar uma pessoa em dificuldades, em minha própria família, bastando, para isso, ficar apenas a seu lado, disposto a conversar. O mesmo não pôde ser feito em relação ao cavalo do filme...

Wesley PC>

Nenhum comentário: