sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A CULTURA DO ‘REMIX’ EM MINHA VIDA CONTEMPLATIVA – INCLUINDO O PARADOXO!

Acabo de sair de uma empolgante aula de uma disciplina chamada Tecnologia e Linguagem dos Meios de Comunicação, onde fui apresentado a um filme que não conhecia: “RIP! A Remix Manifesto” (2009), de um documentarista chamado Brett Gaylor, que se dispôs a elogiar audiovisualmente as inovações musicais empreendidas pelo DJ canadense Girl Talk e, a partir daí, conduzir um bem-vindo debate sobre os paradoxos e (in)aceitações tecnocráticas relacionadas à constituição de um novo ambiente receptivo e produtivo de mídias contemporâneas. Para minha surpresa, gostei muito do discurso coeso do filme, apesar de discordar dalguns pontos que me pareceram demasiado maniqueístas no que tange à oposição entre passado repressor e futuro tendenciosamente livre. Não preciso me demorar muito explicando isso, aliás: quem me conhece sabe o quanto este dilema me é caro e mui pessoal...

Voltando ao filme e à sua sessão em aula: num momento-chave, o diretor-narrador comenta que estamos num contexto em que “o processo de criação é mais importante que os produtos em si”, de maneira que isto explicaria os quatro pontos do manifesto que intitulam o filme:

1 – A cultura sempre se baseia no passado;
2 – O passado sempre tenta controlar o futuro;
3 – O futuro tende a ser menos livre;
e 4 – Para se construir sociedades livres, deve-se limitar o controle do passado.

Não preciso acrescentar o quão ambíguos e essencialmente limitados (ou discursivamente tendentes à corrupção) são estes quatro pontos do manifesto que molda o roteiro do filme, mas o diretor soube ser muito coerente em sua ampliação de justificativas, incluindo no projeto até mesmo uma comparação com os ditames opressivos das patentes farmacêuticas. Mas o que mais me incomodou foi o trecho do filme passado no Brasil, apologético e muito suspeito, em que este País (no qual, não por acaso, eu vivo e de onde estou a escrever este arremedo de apreciação) é laureado panegiricamente por sua incrível capacidade de misturar ritmos e anseios, conforme percebemos na seqüência do baile ‘funk’ em que canções de Nirvana, The Rolling Stones e Double You fundem-se numa mixórdia dançante tipicamente carioca. A platéia inteira ficou empolgada neste instante e, definitivamente, eu não fui exceção. Muito pertinente a tese defendida pelo filme, mais enquanto diagnostico do que enquanto apologia!

Ao final da sessão, os alunos emitiram suas opiniões conflitantes e eventualmente divergentes – pior: algumas delas iam radicalmente de encontro ao que o filme apregoava, mas sem o atrelado distanciamento crítico – e a professora exigiu que eu falasse algo sobre o que eu achara do filme, mas eu quedava impressionado, sacudido por me ver tão empolgado diante de um tema que me incomoda tanto. Definitivamente, eis um filme que precisa ser difundido!

Ei-lo aqui. Desfrutem-no!

Wesley PC>

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