quinta-feira, 11 de agosto de 2011

“MÚSICA DE CONSUMO”: O QUE É ISSO, SR. UMBERTO ECO?

Fruir, durante o dia, daqueles momentos de repouso e distensão em que o apelo elementar de um ritmo repetido, de um jogo já conhecido, de uma brincadeira verbal ou de um modelo narrativo sem imprevistos, se revela como um complemento indispensável de uma vida psíquica equilibrada. (...) [isso] não constitui degeneração da sensibilidade e entorpecimento da inteligência, mas um saudável exercício de normalidade. Quando representa o momento de descanso. O drama de uma cultura de massa é que o modelo de descanso se torna norma, faz-se o sucedâneo de todas as outras experiências intelectuais, e, portanto, o entorpecimento da individualidade, a negação do problema, a redução ao conformismo dos comportamentos, o êxtase passivo requerido por uma pedagogia paternalista que tende a criar sujeitos adaptados” (Umberto Eco – “A Canção De Consumo” (1964) ‘apud’ APOCALÍPTICOS E INTEGRADOS – páginas 302-303 – 6ª edição, Editora Perspectiva, 2006 - grifo do autor)

Li o trecho acima por mero acaso, enquanto baixava um disco de David Byrne a que fui estimulado a conhecer depois que assisti a um gracioso esquete audiovisual em preto-e-branco de um colega de classe, em que um rapazola presumivelmente homossexual tenciona se suicidar repetidas vezes, ao som da canção “My Fair Lady”, do referido cantor e compositor, que utiliza como base sonora “Canção do Mar”, célebre na voz da Dulce Pontes. Definitivamente, a canção não é o que eu tacharia de “canção de consumo”, mas o trecho destacado tem muitíssimo a ver com as razões de que eu me servi para ter acesso ao produto audiovisual em pauta, diante do qual me vi atraído por aquele garotinho tristonho e musicalmente amargurado, por extensão. Matheus Alves, venho, por meio desta citação pertinaz do Umberto Eco, te dar meus sinceros parabéns eróticos (literalmente)!

Wesley PC>

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