segunda-feira, 1 de agosto de 2011

DE ONDE BROTA A BELEZA DA VIDA...

Evaldo Mocarzel apareceu num capítulo de telenovela da Rede Globo certa feita: ele trazia sua filha com Síndrome de Down e dividia com os espectadores as glórias e dificuldades em ser pai de uma criança com este tipo de problema. Por mais digno que fosse o seu depoimento, algo no veículo televisivo específico em que ele se expressava me incomodava, contribuindo para que eu aumentasse o entojo que já sentia por ele desde que vi excertos de um documentário que ele realizou com pessoas que vivem do lixo. Definitivamente, era um cineasta pelo qual eu não nutria interesse...

Vasculhando a programação televisiva nesta noite, vi que “Do Luto à Luta” (2005) seria exibido na TV Escola. Como o filme era curtinho, achei que não me enfadaria de todo ao vê-lo. Liguei a TV, torci inicialmente o nariz para o modo excessivamente despojado como as entrevistas eram conduzidas e emiti gracejos demeritórios contra o filme, chegando ao cúmulo de inverter o sentido de seu belo título numa mensagem de celular destinado a alguém que talvez conhecesse o cineasta melhor do que eu. No filme, pais e portadores de Síndrome de Down explicam que são pessoas normais, que vivem como quaisquer outras pessoas. Um deles gostava de surfar, por exemplo. De surfar e de filmar o que via ao seu redor. De posse de uma câmera digital, ele vira o foco para o próprio cineasta e pergunta por que ele está realizando aquele documentário. Vemos, então, Evaldo Mocarzel, numa cena situada noutro espaço-tempo, brincando com sua filha loira e linda, ensinando-a a falar a palavra “genética”. Foi o suficiente para que eu engolisse em seco: por mais preconceitos que eu nutrisse contra o seu diretor, “Do Luto à Luta” é ótimo e emociona!

Apesar de o filme derrapar um pouco nos minutos finais, quando dedica excessiva trela ao casal que admirava os estilos narrativos de Steven Spielberg e Stephen King, o modo múltiplo como o diretor, roteirista e pai de família conduz o seu amplo painel sobre a Síndrome de Down no Brasil – através de perspectivas depoimentais brilhantemente subjetivas – possui momentos de verdadeira epifania: a Procuradora da República enumerando direitos básicos das crianças em parques de diversão (sejam elas portadoras de alguma deficiência mental ou não), a mãe idosa descrevendo a sujeição bem-humorada de seu filho à pornografia e a própria beleza natural das crianças que surgem na tela encantaram-me. Paguei a língua: Evaldo Mocarzel pode ter sido idiota nalguns aspectos, mas, aqui, ele merece aplausos de pé pelo belo trabalho pessoal. De pé mesmo!

Wesley PC>

2 comentários:

iaeeee disse...

eu vi esse curta! é fofo mesmo! pagou a língua! hehe


é bonito!


Américo

Gomorra disse...

Não é curta, Américo. É longa mesmo, tem mais de uma hora e 10 minutos de duração (risos)

E sim, é ótimo, fiquei impressionado!

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