sexta-feira, 1 de julho de 2011

SOMOS FILHOS DA BURGUESIA: MINHA GERAÇÃO É A DA PEQUENA-FAMÍLIA!

Nas várias oportunidades que tive para ler os prolegômenos da “Mudança Estrutural da Esfera Pública” (1962) de Jürgen Habermas, exigências avaliativas impediram de gozar o texto como ele merece. Relendo-o mais cedo por ocasião de, mais uma vez, o texto ser cobrado numa prova, gemi ao me identificar enquanto beneficiário da instituição dos ‘amateurs éclairés’, no sentido de que, graças à consolidação proto-crítica de uma esfera pública e literária apta a julgar qualitativamente músicas, peças teatrais e pintura outrora reservadas apenas às castas aristocráticas, eu posso hoje estar psicanalisando-me confessionalmente através deste ‘blog’ – e, por extensão, assumindo-me como homem político, visto que esta esfera pública literária desembocou na esfera pública política que engendrou a Revolução Francesa, em 1789, bem como a implantação do período de Terror que se seguiu: um mero efeito colateral talvez?

Diz Jürgen Habermas: “A arte, liberada de suas funções de representação social, torna-se objeto da livre escolha e de tendências oscilantes. O ‘gosto’, pelo qual, a partir de então, se orienta, expressa-se no julgamento de leigos sem competência especial, pois, no público, qualquer um pode reivindicar competência” (página 56 da edição do livro lançada em 1984 pela editora Tempo Brasileiro). Tenho como negar que este foi o contexto histórico-político que possibilitou que pessoas verborragicamente críticas como eu surgissem? Digo mais: para além das três condições democraticamente falaciosas de adesão à tal esfera pública burguesa (discursabilidade, racionalidade e acessibilidade), identifiquei-me com os três momentos das faculdades distintivas de uma suposta personalidade culta habilitante enquanto “árbitro artístico”, a saber, o livre-arbítrio, a comunhão de afeto e a formação cultural propriamente dita. Pôxa, como é que eu não percebi antes que esse texto diz tanto sobre mim?! Por isso que eu me autocriticava enquanto elitizado pequeno-burguês num momento anterior de minha vida pública, quando eu tendia a uma misantropia sociopática... Digo mais, no derradeiro parágrafo do parágrafo 6º do segundo capítulo do livro (“A família burguesa e a institucionalização de uma privacidade ligada ao público”), deparo-me com uma argumentação irrefutável: “[as camadas burguesas] constituem a esfera pública de uma argumentação literária, em que a subjetividade oriunda da intimidade pequeno-familiar se comunica consigo mesma para entender a si própria” (p.68). Prazer, meu nome é Wesley Pereira de Castro e dedico esta reflexão a minha amiga Gabriela Caldas Gouveia de Melo.

Wesley PC>

3 comentários:

gabriela caldas disse...

muito obrigada. eu nao mereço. passei a noite bebendo. habito a desistência.

eu te amo my fucking indian

Pseudokane3 disse...

Habitamos juntos algumas desistências, mas foi muito proveitoso para mim estudar pensando em ti, Gabriela. Beijo grande!

WPC>

tatiana hora disse...

haja coragem pra encarar Habermas!