domingo, 24 de julho de 2011

“A REALIDADE, POR INTERMÉDIO DO ESTILO, REATA COM AS CONVENÇÕES DA ARTE” (ANDRÉ BAZIN)

Teria eu muito a dizer após ter-me visto diante de “Europa 51” (1952), mais dos maravilhosos filmes sobre “santidade laica” dirigidos pelo magistral Roberto Rossellini, cristão fervoroso que faz por merecer a alcunha de “meu diretor favorito” a cada obra-prima antiga dele a que eu tenho o privilégio de assistir. Aqui não foi diferente: saí da sessão experimentando a verdadeira epifania, em estado de choque, literalmente surtando. Saí da sessão ainda mais apaixonado do que entrei, perguntando a mim mesmo até que ponto o meu “amor ao próximo” tem a ver com um possível ódio que eu possa sentir por mim mesmo. Não é o meu caso, mas era o caso da protagonista, atualizadora contemporânea dos feitos de fé de São Francisco de Assis...

No filme, Ingrid Bergman, então vivendo num estágio pré-marital com o genial cineasta italiano, interpreta uma burguesa de bom coração, que não percebe que está desdenhando o amor de seu filho de 10 anos, em prol das futilidades da vida na alta sociedade. Quando o menino pula do alto de uma escada, tentando se matar (e posteriormente conseguindo), ela pensa em se converter ao socialismo, se embrenha pelas realidades caóticas das favelas italianas. Mas é pouco para ela: a ex-socialite experimenta um dia árduo de trabalho numa fábrica e constata que aquilo não dignifica ninguém, muito pelo contrário: aquilo desumaniza, escraviza! A protagonista experimenta Deus e, como tal, quer distribuir o amor de Deus pelos homens: ela ama o próximo mais do que a si mesma, posto que alega odiar a si mesma, em razão do que causou a outrem. Ela se arrepende, ela não visa à glória, ela só quer fazer o bem, ajudar quem precisa de ajuda. Conclusão: ela é internada como louca, aprisionada por aqueles que amavam a sua versão fútil anterior, enquanto seus novos apadrinhados gritam: “ela é uma santa!”. E eu gemia: que filme único, divino (literalmente), teísta, eterno, surpreendente, superior a qualquer injustiça que possa haver nesse mundo! Eis o amor em que eu acredito...

Wesley PC>

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