sábado, 30 de julho de 2011

PORCARIA, POR QUE EU FUI DORMIR LOGO NO FINAL?!

Quando eu era pequeno, lembro que minha mãe reclamava sempre que “cinema nacional não prestava, que só tinha filme de putaria!”. Eram raros os filmes brasileiros que ela elogiava, quase todos protagonizados por Amácio Mazzaropi, Oscarito ou congêneres. Segundo ela, só mesmo as comédias ingênuas das décadas de 1950 e 1960 prestavam. Hoje, ela pensa diferente...

Sempre que um filme brasileiro oitentista é exibido em horário nobre na TV, faço questão de convidá-la a assistir ao filme comigo e, via de regra, ela gosta bastante do que vê, fica surpresa pelo preconceito bobo que tinha com este tipo de filme, em que o erotismo era utilizado com inteligência e percuciência e não gratuitamente como se pensava. Foi o que acabou de acontecer durante a sessão de “Profissão Mulher” (1982), de Cláudio Cunha, emocionante estória de quatro mulheres que, cada qual a seu modo, revelam-se solitárias e infelizes no amor, não obstante a emancipação feminina laureada na publicidade da época...

Dentre as diversas subtramas do filme, obviamente foi a trágica estória da secretária mocoronga Vera (vivida por Lady Francisco) que me chamou mais a atenção: mal-vestida, maquiada como uma bruxa e vilipendiada por quase todos ao seu redor, ela é constantemente humilhada: recebe um vibrador numa cerimônia de amigo secreto, é xingada quase o tempo inteiro pela sobrinha a quem criou depois que os pais da mesma faleceram, é furtada num ônibus, etc.. Seu único prazer efetivo dá-se quando ela derrama água fervente sob sua vagina, sozinha em seu banheiro. E, de supetão, eu me imaginei no lugar dela: “ai, meu Deus, será que vou terminar assim?”.

Para além ou aquém da dignidade da personagem, infelizmente eu cochilei durante os quinze minutos finais do filme (!) e perdi o desfecho da trama dramática da personagem. Segundo minha mãe, parece que ela morre. Vou averiguar, mas, pelo sim, pelo não, fiquei muito contente com a beleza do filme, com o feminismo sincero que ele sustenta (ainda que erótico e um tantinho oportunista em mais de um momento) e me emocionei com a canção-tema, cujo refrão diz algo como “deixa eu morrer”, antes de explicar o que é carregar no corpo o peso de ser uma mulher por profissão. Não é um filme tão bom quanto eu (não) esperava, mas é bonito, muito bonito. Minha mãe não me deixa mentir: ela gostou desta pérola do Cláudio Cunha bem mais do que eu!

Wesley PC>

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