quinta-feira, 30 de junho de 2011

QUANDO “DANOS MORAIS” EQUIVALEM AOS PRECONCEITOS DA CONSCIÊNCIA...

Há algumas horas, alguém me telefonou para dizer que, a fim de encerrar um ciclo psicanalítico pendente em sua vida, precisou submeter-se a um ‘ménage à quatre’ masturbacional ao lado de pessoas com que, conscientemente, não levaria um namoro a sério. No estágio etílico e eufórico em que se encontrava, entretanto, tudo valia! Perguntei se ele havia se arrependido do que fizera e ele me disse que não, que havia se divertido. Fiquei contente que o referido ciclo pudesse se encerrar pacificamente, portanto. E o melhor: com uma bela duma gozada ao final. Aliás, uma não: quatro!

Algumas horas depois que conversei com este meu amigo, resolvi assisti a um filme erótico que seria exibido num canal fechado de TV. Tratava-se da pornochanchada “O Inseto do Amor” (1980, de Fauzi Mansur), sobre uma espécie de mosca amazônica que, ao picar suas vítimas, fazia com que estas fossem tomadas por um estado de excitação sexual extremado, de maneira que, se não fizessem sexo em um máximo de 2 horas, morreriam de inanição. “Operações manuais resolvem o problema?”, pergunta um policial, diante da ameaça zôo-patológica iminente. “Não”, responde o cientista responsável pela descoberta do inseto: “o desejo sexual aplacado só é resolvido após o contato da genitália com uma mucosa”. O ponto de partida para um hilário (e muito subestimado) filme brasileiro foi, portanto, dado!

Numa das primeiras cenas do filme, somos apresentados aos vários personagens simultâneos do mesmo enquanto um apresentador de telejornal adverte a população sobre os “danos morais” que podem se proliferar a partir do contato social com estes insetos. Dito e feito: quando picados pelas tais moscas, mulheres, homens, animais, tudo é válido para salvar-se da morte e do desejo implacável: logo no começo, um presidiário morre ao esfolar seu pênis num buraco da parede da cela em que estava detido; noutra seqüência, uma bela loira transa com o velho jardineiro nordestino que odeia depois que seu grande cachorro preto evita suas caricias eróticas; numa terceira, o candidato racista a prefeito do local praticamente estupra a camareira negra do hotel em que estava hospedado, chamando-a de “feijãozinho”. É incrível o quanto o filme serviu-se bem de uma trama sexualmente sensacionalista para criticar a baixeza dos valores burgueses, mas o que mais me surpreendeu foi o respeito ao personagem do padre vivido pelo velho Jofre Soares. Quando sabe que o tal inseto afrodisíaco está solto na ilha, ele insiste em apregoar que “o pecado está na mente” e que as pessoas buscam no tal inseto uma desculpa para cometem impropérios. Quando o padre é finalmente picado, suplica a uma freira que ela faça sexo com ele, ao que ela responde, séria: é melhor sofrer por duas horas e morrer do que sofrer por toda a eternidade. A cabrita que aparece em seguida não tem a mesma oportunidade verbal de se defender, mas o roteiro não caricaturiza negativamente o padre. Muito pelo contrário, aliás, conforme se percebe na cena em que ele reza fervorosamente ao lado de mais uma vítima do inseto.

Um parágrafo de destaque deve ser concedido ao modo igualmente respeitoso com que o roteiro de Marcos Rey e do próprio diretor Fauzi Mansur aborda as taras homossexuais, freqüentes em várias piadas, em especial no que tange à aparição recorrente de um mordomo que anda vestido com o que parece um mosquiteiro, alegando que a indumentária é para evitar contatos aproximados com mulheres, visto que, para ele, elas são “um câncer, um câncer!” (risos). Mas o aspecto mais positivo neste sentido pederástico valorativo é anterior: logo que sabe dos perigos hormonalmente explosivos que podem ser desencadeados pelo contato com o ferrão do díptero erotógeno, o seguinte diálogo se dá entre um hospede do hotel e o cientista de ascendência alemã responsável pela descoberta:

“ – E se o alvo da picadura for uma bicha?
- O quê?
- Uma bicha!
- O que é isso, em português?
- Um homossexual.
- Ah, isso depende bastante. Os efeitos podem variar se o homossexualismo do indivíduo decorrer de uma verdadeira mania ou de uma simples tendência para afrontar a sociedade”...


E eu gargalhava nesta seqüência, em pleno início da madrugada: como é que eu nunca tinha ouvido falar deste filme antes? Digo mais: estas pornochanchadas têm mais é que ser valorizadas e descobertas, em especial as da primeira e segunda fases, sendo estas equivalentes às produções quase telenovelescas da Cinedistri e àquelas protagonizadas por David Cardoso ou Matilde Mastrangi, respectivamente. Há também uma terceira fase da pornochanchada nacional, posterior a 1985, mais esta já é declinante, quando a competição com os filmes de sexo explícito esfacela o gênero, um dos mais originais e inventivos que tenho a honra de conhecer recentemente. Afinal de contas, em que outro tipo de filmes eu poderia sorrir (e me identificar por projeção erótica) tão fortemente quanto na cena em que um garçom afetado pergunta a um jornalista bonitão (o futuro intérprete brasileiro do palhaço Bozo – hoje, pastor evangélico! – Arlindo Barreto) se ele quer um "furo". Não vou explicar o contexto em que se dá esta pergunta, mas que é bem menos literal e mais profissional do que parece, ah, é! Hilário este filme: tomara que seja mais divulgado, em especial para os rapazes que passaram a madrugada masturbando-se em quarteto. Abaixo os preconceitos!

Wesley PC>

4 comentários:

iaeeee disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkk, belíssimo texto!

Gomorra disse...

Em tua homenagem, querido Américo: escrito no calor da madrugada, assim que terminei de ver o filme, sem pausa para correções ou para uma providencial mijadinha entre um parágrafo e outro. Definitivamente, um texto quase vomitado, de tão grávido de paixão que eu fiquei após o telefonema e o filme, em seguida (risos)

WPC>

iaeeee disse...

owwwwww, ^^

ADEMAR AMANCIO disse...

Muito bom o texto e o filme,andei vendo por aí.