quinta-feira, 14 de abril de 2011

“NÃO SEI O QUE É MELHOR PARA VOCÊS: NÃO SABER NADA OU SABER O SUFICIENTE PARA SEREM ENGANADOS PELOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO”...

Extrair erotismo de uma câmara de tortura durante a ditadura militar brasileira é uma tarefa árdua e complicada. Quando o principal objeto humano do qual se extrairá este erotismo é uma freire fiel não somente aos princípios religiosos que jurou obediência mas também a um doutrinamento socialista de resistência, a tarefa fica ainda mais complicada: qualquer desleixo e a tarefa descambaria para a nocividade apolítica e/ou reacionária, mas Ozualdo Candeias merece aplausos pelo verdadeiro ‘tour de force’ ideológico-sensorial que adota em “A Freira e a Tortura” (1983), filme absolutamente genial que acabo de ver no glorioso Canal Brasil. Estranho, aparentemente incoeso, dúbio em alguns aspectos, mas genial acima de tudo!

Na trama, Vera Gimenez interpreta uma freira que é presa por estar praticando atos subversivos numa favela. Em outras palavras: ela dedica-se a alfabetizar pessoas que, no afã pela sobrevivência monetária, poderão sucumbir a uma subserviência (in)voluntária aos ditames enganosos dos meios de comunicação de massa, que, na época em que o filme foi realizado, serviam às enganações ditatoriais. Em primeiro plano, um inassumido jogo de sedução entre delegado torturador e freira temente a Deus é instituído. Em segundo plano, a lascívia selvagem dos demais prisioneiros denuncia um estado de progressiva desumanização que o encarceramento acelera. A montagem nunca facilita para o espectador: apesar do selo produtivo da Dacar, lucrativa empresa do muso da pornochanchada David Cardoso, o enfoque do filme é muitíssimo mais sério que qualquer espectador mais ávido por nudez poderia pressupor ou aguardar. Estou ainda me recuperando do impacto do filme, aliás. Forte, vigoroso, difícil (por mais “convidativo” que possa parecer, no plano da sexualidade gritante)... Uma peça magistral e subestimada de nosso Cinema Brasileiro. Com certeza, voltarei a falar sobre ele em outras oportunidades...

Wesley PC>

4 comentários:

Boca da Noite disse...

Mais uma que descobri, não sabia que Vera tinha sido atriz. Há tantas raridades e o teu questionamento é verossímil. Quando haverá outras opção? beijos!

Rivaldo disse...

Meu Deus, quanta gente desinformada. Pelo amor de Deus.


Rivaldo

Pseudokane3 disse...

Não sei qual o problema da "desinformação" aqui... Não se nasce sabendo tudo. Conheci este filme mui tardiamente e me surpreendi deveras com ela, até porque sequer conhecia a vera Gimenez - e gostei muitíssimo dela aqui: "eu sou freira"!

E sim, sim, muitas raridades (algumas, bastante óbvias) ainda nos surpreenderão daqui para a frente...

WPC>

ADEMAR AMANCIO disse...

Aquela cena do ator erótico se despindo diante da freira é muito excitante,já vi inúmeras vezes e,sim,ele confessou que houve uma cena estendida no segundo ato... Se é que me entendem,rs.