sábado, 16 de abril de 2011

ENQUANTO CHOVIA, OS TAPURUS CAÍAM DO TELHADO E OS JUDEUS ERAM NOVAMENTE MORTOS DIANTE DE MIM...

Eram 17h40’ da tarde de sábado quando “A Film Unfinished” (2010, de Yael Hersonski) começou a ser exibido num canal fechado. Chovia. Espermatozóides de duas pessoas nadavam em minha garganta e larvas esquizóforas começaram a cair do telhado. “Talvez haja um rato morto lá em cima”, disse eu a minha mãe. Por causa da chuva, o sinal da TV por assinatura saiu do ar mais de uma vez. Estava achando o documentário chato, enfadonho, forçoso em suas perspectivas histórico-narrativo-dramáticas: quatro rolos de filme foram encontrados nos arquivos nazistas, contendo imagens de um filme mudo e inacabado sobre o cotidiano forjado de judeus confinados no gueto de Varsóvia. Alguns dias depois, todos eles iriam morrer!

Como eu vi o filme por acaso, depois de escolhê-lo ao zapear por vários canais, enquanto aquelas imagens atrozes de corpos sendo empilhados eram exibidas na TV, eu comia pipoca. As luzes de minha casa estavam apagadas e talvez algum tapuru possa ter caído na tigela. Tomara que eu não tenha ingerido alguma destas larvas por acidente... O gosto de sêmen ainda repercutia em minhas papilas gustativas: sêmen meu, sêmen alheio, sêmen de sábado pela tarde... Um sêmen inusual, mas bem-vindo. Fazia tempo que eu não gemia alto enquanto lambia uma genitália!

Apesar de admitir que o filme possui momentos efetivamente funcionais no plano do resgate mnemônico (dói assistir àquelas imagens cadavéricas de pessoas vivas e extremamente subnutridas sendo inclementemente espancadas por soldados alemães!), “A Film Unfinished” me pareceu bem mais oportunista do que sincero. Ao ver fotos da bela, jovem e sorridente diretora em sessões exibitórias do documentário, só confirmei a minha impressão: houve um desgaste sobressalente no que tange ao impacto cruel das imagens. O horror criticado enquanto ferramenta de propaganda, mas utilizado da mesma forma propagandística que se visava criticar. E aquele gosto bom de esperma me confundindo enquanto minha mãe varria o sofá e os tapurus insistiam em cair... Tive dó das larvas, por um momento: elas morrerão em breve, distante que estarão da carne morta que lhes serviria de alimento. Os espermatozóides em meu estomago também perecerão, mas serão convertidos num mais do que necessário humo anímico. Judeus sobreviventes assistiam às imagens e choravam, pois hoje são capazes disso: a vida se renova. E, “como não se sabem para que serviriam aquelas imagens se fossem editadas, podemos apenas especular”, diz a narração do filme. E é isto o que faço o tempo inteiro: especulo!

Wesley PC>

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