quinta-feira, 14 de abril de 2011

“EIXO DE DESENVOLVIMENTO = EIXO DE DEVASTAÇÃO E CONFLITO”

Quando o geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves terminou a sua brilhante exposição verbal sobre “o papel da informação e da comunicação em tempos de neoliberalismo ambiental” na conferência de abertura do I Encontro Interdisciplinar de Comunicação Ambiental (EICA) nesta noite de quarta-feira, um membro da platéia com histórico de militância socialista em seu currículo ergueu a mão e, antes de fazer a sua pergunta, disse que, tal qual acontecera nas oportunidades anteriores em que ouvira o palestrante, estava sentindo tesão, de tão discursivamente válidas que foram as contribuições teóricas do mesmo. Sentado numa das últimas fileiras de cadeiras do Auditório da Reitoria da UFS, eu sentia o mesmo tesão: fiquei absolutamente absorto coma genialidade esquerdista do geógrafo, que abordou a temática a que se propôs a debater por um viés absolutamente surpreendente no que tange às negligências propositais de informação no trânsito meios de comunicação de massa => público. E, enquanto estudante de Comunicação Social com pretensões ambientalistas, aquela palestra foi mais do que um alento de inteligência e esperança intelectual, mas sim um verdadeiro clamor à atividade, uma declaração ferrenha de que ainda existe gente comprometida com o que é realmente relevante neste mundo. Numa expressão supra-interjetiva: Deus do céu, como senti tesão!

Perpassando todo o seu discurso pela análise das contradições, ambigüidades e discordâncias que eventualmente se manifestam na abordagem tipicamente oportunista dos temas ambientais nas transmissões midiáticas, o palestrante surpreendeu-me logo nos minutos iniciais, quando disse que não compartilhava da mesma empolgação do Vice-Reitor da UFS, professor Ângelo Antoniolli, no que diz respeito à exaltação quantitativa do incremento técnico-científico das causas ambientais. Se este último comemorava o surgimento e desenvolvimento de áreas de estudo como Engenharia Ambiental ou Contabilidade Ambiental, Carlos Walter Porto-Gonçalves apressou-se em dizer que “o tema é sério demais para a gente fazer com ele o que a gente está fazendo”... Na concepção acertada do palestrante, estamos vivenciando a aplicação irrestrita de uma nova lei de Lavoisier, em que tudo se transforma ou deve ser transformado em oportunidade de negócios, em tendência à mercantilização. Nas palavras do geógrafo, “o sistema-mundo atual é um sistema moderno-colonial. O colonialismo acabou, mas a colonialidade não!”. Não consegui me esquivar de emitir um grunhido de exaltação concordante neste momento. O cara é um gênio!

Destacando fatos históricos importantíssimos – desde um resumo dos efeitos dos principais efeitos que promoveram a gradativa institucionalização da problemática ambiental até depoimentos pessoais acerca dos motivos que o levaram a desfiliar-se do Partido dos Trabalhadores (PT) ou conversas objetivas com o líder ambiental, assassinado em 1988, Chico Mendes – Carlos Walter Porto-Gonçalves fazia questão de frisar que é radicalmente contrário à lógica espúria do discurso esquizofrênico ambientalista contemporâneo, que prega verdadeiros oximoros como “o mundo está acabando, vamos plantar mais árvores” ou instaura uma pseudo-cisão entre as lutas trabalhistas com base no argumento de que, ao engendrarem pela militância ambiental, genérica, étnica ou racial, os proletários estariam a se dividir em subclasses que só dificultam a investida sempre premente contra o Capital. E a cada novo fato gritante – e, não raro, obliterado pela mídia dominante e até mesmo por alguns focos alternativos de resistência política – que o palestrante apresentava, eu quedava-me mais e mais impressionado com o seu domínio de conteúdo, com as suas firmes convicções ideológicas, com a sua sagacidade humorístico-protestante em constituir verdadeiros jargões de genialidade iridescente (o adjetivo é proposital e vai fazer muito sentido para quem esteve comigo na platéia da mesma conferência!) como, por exemplo, este que se segue: “nenhum latifúndio merece ser chamado de improdutivo, pois eles sempre produzem fome, pobreza, miséria e iniqüidade”... Tem como não se tornar fã irrestrito deste verdadeiro mentor supra-universitário?

Em verdade, tive acesso ao pensamento de Carlos Walter Porto-Gonçalves antes desta palavra, graças ao seu livro mais famoso “A Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização” (já citado tangencialmente aqui e aqui), que me foi apresentado por uma de minhas professoras favoritas, Sônia Aguiar, não por acaso, a coordenadora-geral deste importantíssimo evento. Por mais que eu não tenha entendido bem o que o conferencista quis dizer quando alegou que todos os líderes indígenas sul-americanos que ele conheceu ficaram fascinados pelo filme “Avatar” (2009, de James Cameron – que eu odeio, vide o porquê) ou por mais que eu tenha discordado levemente de seu argumento defensivo para que, “quem sabe um dia, a gente não possa ter um político que peça um voto de nosso inconsciente” (argumento este embasado numa supostamente reminiscência de nosso senso crítico inconsciente atrelado ao fato de sentirmo-nos mal-humorados nas segundas-feiras e contentes nos finais de semana, com exceção do domingo, em razão de nossa insatisfação com empregos que só fazem explorar nossa força de trabalho para retroalimentar o capitalismo), saí da palestra deste geógrafo me sentindo muito mais consciente de meu papel enquanto comunicólogo, enquanto vegetariano, enquanto consumidor midiático e enquanto ser social. E, tão entusiasta do tipo de “revolução de longa duração” quanto o palestrante, quando elogiou quando associou a expressão ao sociólogo italiano Antonio Gramsci, eu agradeço vivamente a minha amiga e colega de curso Isabelle Marques por ter enviado esta fotografia do evento, com certeza, um dos mais relevantes, emocionantes e impactantes de toda a minha vida. Muito obrigado mesmo!

Na saída do auditório, fui interpelado por alguns colegas de curso, que desejavam entrevistar-me, a fim de que eu dissesse o que tinha achado do evento em geral. De coração, acho que eles não poderão aproveitar muita coisa de minha fala, de tão rápido e empolgado que eu me manifestei. Eu não havia apenas sentido tesão durante a palestra. Eu literalmente gozei!

Wesley PC>

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