domingo, 10 de abril de 2011

“DEUS ME ACORDOU CEDO HOJE, E ME MANDOU CALAR A BOCA”!

A frase-título faz parte de um poema de ‘hip hop’ que é discutido em sala de aula por alguns dos personagens de “Os Inquilinos” (2009), considerado um “filme em tom menor” de Sérgio Bianchi por ser mais ficcional do que provocador, mas, em minha modesta e subjetiva opinião, os resultados aqui obtidos são cinematograficamente mais interessantes do que aqueles que chamam atenção e polemizam em “Cronicamente Inviável” (2000) ou “Quanto Vale ou é Por Quilo?” (2005). Gostei muito do que vi no filme, apesar de amigos confiáveis terem efusivamente desgostado dele!

Na trama, que trabalha muito bem as induções progressivas do suspense hitchcockiano para as áreas fronteiriças das favelas brasileiras, uma família composta por mãe, pai e dois filhos incomoda-se bastante com os três novos vizinhos da casa ao lado, locatários da ex-esposa de um velhinho, suspeitos de serem traficantes e seqüestradores, baderneiros inveterados. Apesar de os comportamentos dos inquilinos serem reprováveis no plano da boa convivência societal, o filme reluta em culpá-los efetivamente de algum dos atrozes atos de violência a que a família protagonista é acostumada a ver na TV. Intimados com esta suspeita que não se resolve, os membros mais velhos desta família (e os espectadores, por procuração de perspectiva de câmera) gastam minutos preciosos espionando as atividades dos vizinhos através das frestas de janelas, persianas, cobogós, num tipo de atitude que assemelha-se bastante ao que eu costumo fazer em relação aos meus vizinhos sensuais de outrora. Numa cena, a mãe de família explica para as amigas como um dos jovens suspeitos de serem bandidos urina. Noutra, genial, um zumbido insuportável invade a banda sonora do filme enquanto a esposa reclama com seu marido da barulheira que os vizinhos estão fazendo, altas horas da madrugada. Numa terceira cena, genial e ainda mais hitchockiana, o marido se vê observado pela própria mulher quando vistoria a residência dos vizinhos, em busca de algo que os incriminassem. Tudo isso em meio às clássicas reclamações esquerdistas do diretor: crianças são vistas ensaiando coreografias eróticas no meio da rua; o pai de família tenta convencer, sem sucesso, seu patrão a assinar a sua carteira de trabalho; crises de ciúme misturam-se aos temores de violência urbana suscitados pela presença incomoda dos novos vizinhos; alunos de um curso noturno entram em atrito verbal com a diretora do colégio quando esta declara que não suspenderá as faltas justificadas pelo medo de um “toque de recolher” perpetrado por traficantes de drogas... Em mais de uma situação, fui tentado a crer que este “filme em tom menor” do diretor é mais efetivo e qualitativo que seus dois filmes mais famosos...

Curioso foi o fato de eu ter acesso a este filme justamente quando os vizinhos de minha rua passaram a demonstrar pavor por causa dos novos moradores da esquina: o antigo casal morador divorciou-se e eles locaram a casa a homens suspeitos (ou melhor, comprovados) de estarem vendendo e consumindo ‘crack’ durante quase toda a extensão do dia. Os vizinhos – incluindo, minha mãe – estão apavorados. E eu disponho, assim, de mais um argumento pessoal em defesa deste ótimo filme. Ótimo mesmo!

Wesley PC>

3 comentários:

Jadson Teles disse...

pois é , "potencialmente bom" até aceitaria agora dizer que é melhor que os outros filmes do cabra é exagero mesmo!!!

Jadson Teles disse...

e comparar a hitchcok é por demia sexagero, vixe!

Pseudokane3 disse...

Ah, eu achei a progressão do suspense muito "janela-indiscretiana" (risos) - E talvez eu ache o melhor dele até então, sim. Só perde para MATO ELES?, lógico! Achei o filme muito seguro, firme, narrativamente válido, mexeu comigo - e não foi só por coincidências "absurdamnete subjetivas", como tu disseste, não! (WPC>)