sábado, 19 de março de 2011

SOMOS INJUSTOS QUANDO BRIGAMOS COM ALGUÉM!

No meu trabalho, é comum que eu transmita más notícias às pessoas que atendo: pessoas que perderam a vaga na Universidade porque se esqueceram de efetivar matrícula, pessoas que não têm direito a atestados médicos depois de transcorridos cinco dias úteis, pessoas que não sabiam que, ao reprovarem em dada disciplina seriam preteridas na concorrência posterior pela mesma... Pessoas que se irritam por não saberem lidar com pequenos sofrimentos e, desesperadas, descontam em mim, que estou diante delas...

Estressado e eventualmente condoído, chego em casa cansado, frustrado, raivoso ou simplesmente triste. E, às vezes, sem perceber, desconto minha raiva em minha mãe, que se chateara por ficar catando merda de cachorro durante quase toda a extensão do seu dia. No restante do tempo, ela ouve os gritos de meu irmão mais novo, que ouve gritos de sua chefa, que ouve gritos do superior hierárquico dela, etc., etc.. A cadeia de raiva e injustiça não pára e não permite que elenquemos apenas um culpado. É uma relação de interdependência: quem fere é ferido. Quem é ferido anseia por ferir também.

Ao chegar em casa, culpado por ter discutido com quem não merecia, deito-me no sofá e ligo a TV. Deparo-me com um filme espanhol que cria apenas mediano: “Pelos Meus Olhos” (2008, de Icíar Bollaín). Todas as sinopses conhecidas apontam o marido da protagonista como culpado por seu sofrimento. Ele a espanca, ela sai de casa. Sua irmã a acolhe, ela sente saudades do marido. Sua irmã pede que ela seja cautelosa. Ela acusa sua irmã de ser carente. O marido a ama, mas sente vontade de espancá-la novamente por não saber com seu amor ilimitado. Ele sente ciúmes, ela não atende ao celular quando ele telefona. Ele ameaça se matar se ela for embora. Filme muito bom!

O que me deixou um tanto impressionado é que, diante deste filme, identifiquei-me bastante com aquele que é pintado como vilão por muitos espectadores: o marido violento porque impotente. Não impotente no plano sexual, mas impotente no que diz respeito à maneira de demonstrar carinho, ao modo sincero de pedir desculpas. Por mais que ele se disponha a fazer terapia, para tentar ser menos impulsivo, ele não consegue controlar o temor de que ela parta. E, por não saber controlar este temor, ele causa este temor. E, um dia, tudo pode ser tarde demais...

Tiro a camiseta branca que vestia, esfrego creme hidratante em minhas costas, abraço minha mãe, que via TV com os cachorros de nossa casa, no quarto de meu irmão, e digo que sinto minha pele coçar. Ela me oferece suco de maracujá e eu respondo que os pastéis com panetone e café que eu acabara de comer me deixaram satisfeito. Amo minha mãe!

Wesley PC>

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