sexta-feira, 11 de março de 2011

POSSO TER PERDIDO O COMEÇO, MAS O FINAL TODO MUNDO SABE...

A maioria dos livros que li nos últimos meses reserva pelo menos um de seus capítulos a uma morte por amor (ou, melhor dizendo, morte por desgosto decorrente da falta de amor). Por mais que o tema central do livro em pauta fuja da pieguice tão cara às minhas escolhas românticas, chega o momento em que algum dos personagens sucumbe à tristeza desalmada que está relacionada à solidão. Com os filmes que vejo ultimamente, a situação não é diferente: personagens morrem de desolação afetiva o tempo inteira... Será que na vida real também é assim?!

Não lembro exatamente o contexto em que ouvi alguém comentar isto, mas perguntaram a um diretor de teatro local quais eram seus temas favoritos durante a escolha por uma peça a ser encenada e ele respondeu que não havia muita diversidade quando se admite que, no mundo, existem apenas dois temas entrelaçados: o encontro e o desencontro. E, de fato, não é difícil constatar que o supra-sumo dos livros, filmes e canções versam justamente sobre isso: a necessidade e/ou (im)possibilidade do reencontro.

Nesta tarde ensolarada de sexta-feira, fiquei com vontade de tirar folga no trabalho. Vim para casa e, ao chegar, percebi que um clássico filme de George Cukor, protagonizado pela diva Greta Garbo, havia acabado de começar a ser exibido na TV. Despi-me rapidamente e sentei-me numa cadeira plástica para assisti-lo. Minha mãe despertou e, ao reconhecer as imagens do filme, ficou logo empolgada para assisti-lo ao meu lado. Tratava-se de “A Dama das Camélias” (1936), um dos filmes mais marcantes de sua juventude, conforme ela já havia comentado comigo em muitas oportunidades. Fiquei contente em poder reviver aqueles momentos românticos ao lado dela.

A trama do filme, baseada num romance do francês Alexandre Dumas Filho, não poderia ser mais banal para os padrões hodiernos: uma cortesã tuberculosa apaixona-se pelo herdeiro de uma rica família. Ele está decidido a abdicar de sua fortuna por ela e ela não hesitaria em sacrificar seus vícios neo-burgueses para permanecer ao lado dele. Experimentam um alegre verão juntos, até que ela recebe a visita do pai dele, que exige que a mesma desista de seu amor, que ela não é digna dele, que ele jamais admitirá que seu filho se sacrifique por alguém como ela. O amor dela não é egoísta e ela consente em fingir que não mais o ama, causando ciúmes nele ao ser vista na companhia de um rival rico. O final do filme não é difícil de imaginar. E como é lindo, triste e bem-vindo mesmo assim!

Ao final da sessão, pedi que minha mãe abrisse uma lata de leite condensado. Disse-lhe que estava meio triste e ela brincou comigo: “o que foi? Estás ainda pensando na mulher das flores?”. Não é que eu (não) estivesse, mas um diálogo em particular me marcou: quando insistia em provar que seu amor pelo herdeiro era verdadeiro, a cortesã escuta da boca de seu potencial sogro que ela está sendo vitimada pela “melancolia da felicidade”, que corresponderia àquele paroxismo da alegria em que percebemos que os bons dias não vão durar, que o langor pode regressar a qualquer momento, que a morte é uma certeza reservada a todos os indivíduos, em especial àqueles que padecem de umas moléstia respiratória recorrente. E foi neste momento que eu lembrei que tenho sinusite, mas não disponho de alguém nos meus braços para lamentar. Menos mal? Quem viver, verá...

Wesley PC>

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