quinta-feira, 17 de março de 2011

“NÃO É POR TIMIDEZ QUE OS APAIXONADOS HESITAM, MAS PARA PROLONGAR AO MÁXIMO A FELICIDADE QUE ELES ESPERAM CHEGAR”...

Assim o protagonista do extraordinário filme de Claude Chabrol “A Besta Deve Morrer” (1969) justifica as suas próprias minúcias no que tange à vingança: seu filho pequeno fora atropelado violentamente quando atravessava uma rua e ele jura assassinar quem fugiu sem sequer prestar ajuda. Quando finalmente encontra o assassino culposo, ele descobre que ele é um ser execrável, “uma caricatura de homem mau”, que não hesita em trair a mulher diante dela e estapear o filho erudito porque este não tirou nota máxima em História. Com exceção da mãe do atropelador, todos à sua volta desejam que ele morra – e, mesmo sendo pecado desejar a morte de outrem (em minha opinião particularmente religiosa), o genial diretor manipula-nos, enquanto espectadores, para que o desejemos também – mas, na hora H, o protagonista é impedido por um detalhe quase banal: ele registrara seus planos de vingança num diário, prontamente apreendido por seu vilanaz antagonista, que o entrega a seu advogado, esperando que, assim, esteja imune às ameaças rebuscadas do pai vilipendiado. Dilemas morais suficientemente amalgamados para que eu aplauda de pé esta corruptela suspensiva do estilo hitchcockiano!

Evitarei detalhar como o filme termina, a fim de não estragar a surpresa de quem suplico que veja esta brilhante peça de cinema francês, mas a paráfrase de versículo bíblico que é declamada numa cena-chave (“é preciso que a besta morra, e o homem também!”) ficou latejando em minha mente antes de cochilar por uma hora e quinze minutos nesta cálida noite de feriado local. Hoje é véspera do aniversário de um rapaz a quem desejo muito bem (supondo que eu seja capaz de desejar isto) e algo na relação do protagonista com a rapariga um tanto promíscua de quem ele se aproxima para chegar ao atropelador de seu filho me pareceu uma advertência passional específica: a rapariga em pauta é cunhada do ser vilanaz que chegamos a desejar morto nalgumas seqüências e, naquele que ela considera o momento mais infeliz de toda a sua vida, ela dormira com ele, trocara fluidos e arrependimentos. Numa carta de despedida, o protagonista diz que, se a tivesse encontrado noutra circunstância chegaria a amá-la de verdade, poderiam ficar juntos, não obstante ele considerá-la desmiolada, conforme diz depois que a estapeia quando esta brinca com o urso de pelúcia de seu falecido filho, “um brinquedo impregnado com os beijos dele, mas que, no fundo, não passa de um amontoado de panos”. E eu aguardando a meia-noite de hoje para amanhã para enviar uma mensagem de aniversário para o rapaz em pauta, aquele que está sempre em pauta, aquele que é aquele, justamente aquele, prontamente aquele. Que venha!

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu:

Há tempo de nascer, e tempo de morrer;
Tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar;
Tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir;
Tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras;
Tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder;
Tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser;
Tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar;
Tempo de guerra, e tempo de paz.


Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha? Tenho visto o trabalho que Deus deu aos filhos dos homens, para com ele os exercitar.Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs o mundo no coração do homem, sem que este possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim. Já tenho entendido que não há coisa melhor para eles do que alegrar-se e fazer bem na sua vida; E também que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um dom de Deus
(Eclesiastes, 3: 1-13).

Wesley PC>

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