sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

ALGUNS TÉDIOS SÃO BEM-VINDOS (VERSÃO ESTENDIDA)...

Se eu já caminho rápido em dias normais, ontem eu praticamente corria para chegar em casa, depois que saí do trabalho. Estava mais do que ansioso para assistir ao mais recente filme da Sofia Coppola, ainda que o comentário reticente de uma amiga minha me tivesse deixado preocupado. Vi o filme ontem à noite, literalmente gemendo de tanta satisfação, e, admitindo que minha amiga tem razão em vários aspectos de seu comentário, comigo a apreciação foi inversa: achei o filme muitíssimo mais genial do começo para o meio – e ótimo no cômputo geral!

Não sei se preciso sintetizar aqui os temas-chaves da ainda curta (porém magnífica) carreira da Sofia Coppola, mas o faço por voluntário diletantismo: se o magistral “As Virgens Suicidas” (1999) não me fisgou de imediato, e se o exuberante e psicológico “Maria Antonieta” (2006) é lancinado por contradições temáticas, “Encontros e Desencontros” (2003) é uma obra-prima do começo ao fim, impressão que só se confirma a cada vez que o revejo. E, como alguém criticou nalgum lugar, o fato de a segunda metade do filme servir-se dos recursos típicos do deslocamento em país estrangeiro indica uma autoconfiança superlativa da diretora em seu próprio material, que, venhamos e convenhamos, tem tudo a ver comigo e com as pessoas que me cercam: “Em Qualquer Lugar” é onipresentemente encantador!

Os primeiros contatos que tive com o enredo do filme não me permitiram antever o quanto eu gostaria dele: um famoso astro de filmes de ação (Stephen Dorff) lida com as inconveniências de sua vida atribulada de astro hollywoodiano com desdém e enfado até que passa um tempo com sua filha de 11 anos (Elle Fanning). Basicamente isso. Não me parecia de todo interessante. Até que, logo no começo, duas ‘strippers’ penduram-se repetidas vezes numa barra portátil ao som de “My Hero”, dos Foo Fighters, enquanto o protagonista adormece de tédio. E aí eu tive certeza plena de que o filme era tão genial quantos os anteriores. Absolutamente maravilhoso!

Não serei minucioso na descrição das surpreendentes seqüências quase autônomas do filme (em sua crítica/elogio às reflexões sobre “o que é ser uma pessoa”) a fim de não estragar o espanto de quem ainda vai ver esta preciosidade fílmica, mas preciso gritar aqui que Sofia Coppola é uma cineasta que não somente respeita o tempo (como fizeram gênios como Yasujiro Ozu, Carl Theodor Dreyer ou Andrei Tarkovsky) antes dela, mas adapta este respeito ao tempo das inebriantes canções que ela utiliza na trilha sonora: cada minuto nos proporciona uma surpresa diferente!

Dentre as cenas favoritas de um filme favorito nato, destacam-se a competição de guitarras virtuais entre pai e filha, a participação do cineasta italiano Maurizio Nichetti numa cena-chave divertidíssima, as acrobacias de balé no gelo e um molde facial de látex que espanta o protagonista (e o espectador) após 40 minutos de espera. E eu juro que ainda não disse nada. O filme é magnífico! E, depois, podia faltar energia à vontade, que o filme me deixou contente e protegido contra o tédio por horas!

Wesley PC>

Um comentário:

Michelle Henriques disse...

Vou ter que assistir a esse filme depois, em outro momento. Vou prestar mais atenção nesses detalhes que você descreveu.

Uma cena que eu adorei, foi ver a menina patinando. Tão delicada.
E ela conversando com o tio.

É um filme fofo, mas meu preferido SEMPRE vai ser "Encontros e Desencontros". Esse é perfeito do começo ao fim.