terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

AINDA SOBRE “MAURICE” (1987, DE JAMES IVORY) E O QUE ELE ME CAUSOU...

Quando eu vinha para o trabalho na tarde de hoje, vi um menino deitado no chão de uma quitanda, com suas pernas apoiadas para cima num poste. Antes de virar numa curva, percebi que suas coxas eram muito mais brancas que seus tornozelos e, como tal, isto me excitou. Quando eu vi que o rosto do quitandeiro também era bonito, fiquei contente com a visão deste corpo seminu como um todo. E, nesta experiência pessoal tão recente, o que mais me encantou não foi somente a composição bem torneada do trabalhador, mas sim o contexto em que tal visão me surgiu: quando eu ainda caminhava em passos lentos, por causa do langor beatífico decorrente do maravilhoso filme de James Ivory recém-visto, em que um alto executivo e um empregado de fazenda se apaixonam e, de uma forma estranha, correspondem-se. Em verdade, nunca que eu imaginasse que o enredo do filme fosse tão politicamente rico quanto ele se manifestou. Que surpresa boa! Cria eu que seria apenas um (maravilhoso) filme sobre janotas enamorados, endinheirados e enredados numa erudição inócua. Mas não é. O filme é surpreendente, até mesmo para quem já estava acostumado ao estilo deveras requintado dos filmes clássicos e classicistas do James Ivory, em sua parceria antes recorrente e proveitosa com o produtor Ismail Merchant e o escritor E. M. Foster. A luta de classes existe e se manifesta até mesmo nos pequenos meandros de nosso dia-a-dia. Por precaução, eu fiz de conta que estava amarrando o cadarço do sapato quando o quitandeiro me flagrou olhando para ele. O desejo, oh, o desejo...

Wesley PC>

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