domingo, 30 de janeiro de 2011

NA DÚVIDA SE É GUARANÁ LEGÍTIMO OU REMÉDIO PARA ABORTAR, TALVEZ O MAIS PRUDENTE SEJA JOGAR TUDO FORA!

Dentre as famosas “memórias inventadas” (ou seja, aquele tipo de lembrança infantil que é tão recôndita que até parece que inventamos) de minha vida, lembro quando minha mãe admoestava-me a respeito de um lugar apelidado de Serra Pelada, perto de minha casa, onde eu e meu irmão mais novo catávamos esterco de vaca para fertilizar as plantas de minha mãe, mas temíamos deparar-nos com os fetos lá jogados pela administradora de uma clínica clandestina de abortos amadores. Mais de 20 anos depois, uma das descendentes desta administradora, já falecida, entregou um saquinho com um pó amarronzado a minha mãe, dizendo que era legítimo guaraná da Amazônia. Empolgada, minha mãe derramou um pouco neste pó numa jarra de suco de maracujá, mas o gosto do suco ficou tão ruim que ela jogou fora, com medo de ser um abortivo qualquer...

Eu, porém, fui o escolhido para experimentar o tal suco amargoso, o que talvez pouco influencie, visto que eu temo que meus espermatozóides já são inférteis. Pelo sim, pelo não, as aventuras que eu elenquei na tal Serra Pelada, hoje território solene de traficantes periféricos de drogas, são deveras numerosas e, tendo visto o levemente decepcionante “Quadrilha de Sádicos” (1977, de Wes Craven), algumas memórias temerosas deste tempo voltaram à tona.

Em verdade, quando digo que o filme me foi “levemente decepcionante”, a culpa não foi de seu genial diretor e roteirista, mas sim de minha sujeição a uma publicidade genérica prejudicial sobre o referido filme, que destacou as suas impressionantes cenas de horror em detrimento da sagaz mistura de gêneros efetivada pelo cineasta que, além de tudo, é deveras autoral em sua tese de que a violência faz com que algozes e vítimas confundam-se enquanto lados opostos de uma dicotomia. Dizendo de outra forma: apesar de haver uma aparentemente clara distinção entre vilões e mocinhos neste filme, quando nos vemos torcendo para que um outrora pacato marido esfaqueie repetidamente um canibal fatalmente envenenado por causa de uma mordida de cascavel no pescoço, percebemos que há algo de errado conosco, e que isto tem muito a ver com uma sociedade tolhida pela cultura da violência supostamente justificada, equívoco este que regressaria em diversos outros filmes clássicos deste genial autor de cinema.

Posso não ter gostado suficientemente deste elogiadíssimo filme numa primeira sujeição espectatorial, mas, enquanto tese sociológica, fiquei espantado com a sua proficiência. Muitíssimo impressionante! Com todos os problemas detectados, mais do que recomendo. E olha que eu ainda sinto o gosto ruim daquele pozinho amarronzado em minha boca...

Wesley PC>

2 comentários:

Michelle Henriques disse...

Gosto tanto do jeito que você sempre mistura sua vida com os filmes, livros, músicas.
Adoro todos os seus textos!

Esse filme ainda não pude ver, mas é um "clássico" (pelo menos para o nosso gosto!), então, vamos lá, né? :)

Gomorra disse...

também tinha medo de encontrar fetos por aí. Só que era dentro dos canais do Bairro Industrial e Sto. Antônio.

Explica-se: quando era criança, vi na tv Sergipe, uma reportagem sobre um feto que foi encontrado em um canal... Dizia- se que a mulher tinha abortado enfiando um facão no canal vaginal- essa parte não se foi o jornal que disse ou se eu esutei por aí! kkkkkkk

( fui lembrar disso agora depois de mil anos sem lembrar!)


pense isso na cabeça de um guri? lol


Américo