domingo, 16 de janeiro de 2011

“É NATURAL QUE AS PESSOAS SE CONHEÇAM, SE APAIXONEM, FAÇAM AMOR... EU SÓ NÃO QUERO MAIS CORRER ESTE RISCO!”

Mais uma vez, vou eu a discorrer acerca dos sentimentos mais básicos dos indivíduos, aqueles que são agrupados sobre o coletivo “pecados capitais”, apenas porque senti uma “invejinha branca” depois que li um belo comentário de uma amiga sobre um filme primevo do Claude Chabrol e quis fazer o mesmo. Assisti a “O Açougueiro” (1970) na manhã de hoje e a extrema qualidade do filme só me deixou mais chateado quando lembro que, para muita gente, Claude Chabrol é lembrado como um mero diluidor do estilo de suspense teórico patenteado pelo cineasta Alfred Hitchcock, quando ele é bem mais do que isso: é um autor de cinema, é um manifestante contumaz contra as divisões sociais de poder, contra a hipocrisia das pessoas que vestem papéis sociais como se fossem complementações anímicas. E a extrema sutileza do roteiro do filme ora visto só me comprova isto de forma positivamente chocante!

Oficialmente, o que pode ser dito sobre a trama deste filme? Digamos que ela esteja centrada em dois excelentes atores: Jean Yanne e Stéphane Audran. O primeiro interpreta o açougueiro do título, um homem um tanto amargurado que gastara 15 anos de sua vida no Exército e, como tal, aprendera a valorizar sobremaneira duas palavras, laureadas verbalmente de 5 em 5 minutos, Lógica e Liberdade; a segunda interpreta uma professora mui competente, que logo ascende ao posto de diretora do colégio, mas, devido a uma decepção amorosa lancinante, evita relacionamentos interpessoais mais íntimos, a ponto de cunhar a declaração temerosa que intitula esta postagem. E, se se pode falar num clímax emocional neste filme, tão cravado de sentimentos doridos à flor da pele, este se dá num passeio que a professora promove com seus alunos a uma caverna pré-histórica, a mesma que surge nos créditos de abertura, onde ela explica que os desenhos na parede correspondem às “aspirações” dos homens primitivos, para, logo em seguida, encontrar a esposa de um colega de escola esfaqueada na relva. Não se precisa dizer mais nada!

Se, antes deste filme, eu ainda tinha qualquer reserva ao talento mui sutil do genial Claude Chabrol, agora me rendo totalmente à sua argúcia analítica do ser humano e, antes de tudo, devo agradecer à minha amiga por ter escrito aquele texto curto tão belo sobre outro filme deste cineasta, ainda não visto por mim. Sou fã do Claude Chabrol e, como tal, defendo “O Açougueiro” como um dos melhores filmes que ele já fez. Que tétrica beleza, meu Deus! Jamais me esquecerei do olhar de Stéphane Audran ao final...

Wesley PC>

2 comentários:

tatiana hora disse...

ainda não vi esse, mas pelo seu comentário tenho certeza de que ia gostar!
incível como me identifico muito com essas frases que você cita no seu blog...

Pseudokane3 disse...

Esta postagem foi mais do que direcionada para ti, Tatiana. E eu não vi OS PRIMOS ainda (risos) e me identifico com tu, ôxe!

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