quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

“WHEN THE LIGHTS OUT (...) I’M STUPID AND CONTAGIOUS”

Até os meus 19 anos, mais ou menos, quando eu me sentia desolado, eu costumava subir na mangueira do quintal de minha casa. Às vezes, eu aproveitava o ensejo para bisbilhotar o vizinho da frente se trocando com a porta aberta, num quarto de andar, mas, mesmo quando não havia este incremento erótico-voyeurístico, costumava obter paz na copa daquela árvore tão imponente. Já cheguei, inclusive, a passar os minutos cruciais de uma virada de ano neste lugar, sentindo pena de mim mesmo e sendo consolado por mim mesmo, ao mesmo tempo. Até que, um dia, o vizinho do fundo aproveitou um qüiproquó para denunciar-me à polícia, insinuando que eu subia na árvore, tarde da noite, para fumar maconha. Nada contra, mas era mentira. E eu desgosto de mentiras. E, depois desta denúncia, tive que ficar mais cuidadoso em relação às minhas terapias arbóreas noturnas, cuidado este que também tem a ver com o fato de eu ter sido flagrando em plena atividade ‘voyeur’ pelo desnudo vizinho da frente...

Pois bem, na tarde de hoje, minha mãe pediu que eu subisse novamente nesta mangueira, para colher alguns frutos maduros, antes que estes caíssem e fossem devorados por nossa cabrita. Lá em cima, percebi que alguns galhos da mangueira foram cortados, que outros foram devorados por cupins e que eu não possuo a mesma destreza de outrora enquanto escalador. Mas como me foram apaziguadores aqueles instantes pragmáticos em que estive sobre aquela árvore companheira, que me legou tantas e tantas lembranças positivas e uma nostalgia sobrevivencial que tem muito a ver com esta desolação clicherosa que sempre me toma de assalto aos finais de anos... Foi bom!

Antes de subir na tal mangueira, eu estava a ler alguns capítulos do deslumbrado livro midiático do comunicólogo Henry Jenkins, “Cultura da Convergência” (2006), no qual ele diferencia espectadores/consumidores casuais dos fiéis e dos zapeadores. E, logo em seguida, que estas categorias não são estanques, que todos nós trafegamos entre uma e outra categoria, se bem que, na maioria das vezes, eu sou fiel: quando me sento diante da TV para ver algo, este algo é o que quero ver e é o que eu efetivamente vejo. Estava vendo algo quando minha mãe pediu que eu subisse na mangueira. E como foi bom interromper o que estava fazendo para atendê-la...

Wesley PC>

2 comentários:

tatiana hora disse...

às vezes sou uma espectadora fiel, às vezes zapeadora hehe.

Gomorra disse...

E, às vezes, ambos somos casuais (risos). Na grande maioria das vezes, quiçá (risos)

Li este livro por causa de Messiluce, mas é muito, muito deslumbrado com o "novo pelo novo". A gravura que acompanha a postagem veio de lá. Diz muito, né?

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