domingo, 12 de dezembro de 2010

UMA PAUSA NA ANTIPATIA, COMO SE ELA POSSÍVEL FOSSE. AI, AI, DEUS, QUE TORMENTO! MEXE, MEXE... E EIS O GOZO!

Sébastien Lifshitz não é o que se pode chamar de um “novo diretor” fácil. O único filme dele que eu havia visto até então é o complicadíssimo “Lado Selvagem” (2004) – famoso por causa da aparição do magno Antony Hegarty, numa cena inicial, cantando “I Fell in Love With a Dead Boy” – cujas tramas mesclam as estórias de um transexual cujo companheiro faleceu recentemente e de dois imigrantes ilegais (um argelino e outro da Geórgia, se não me engano) que chegam à França por motivos diversos mas são igualmente cooptado pelas teias da prostituição sadomasoquista homossexual e no tráfico de drogas. Detalhe: nenhuma das três tramas é linearmente abordada. Ou seja, além de a estória passar de um personagem para outro aleatoriamente, de mudar radicalmente de cenário, idioma e geografia o tempo inteiro, a própria noção de tempo é atrozmente subvertida pelo filme. Conclusão: é complicado, mas quase ótimo assim mesmo!

Pois bem, meio que por acaso, baixei o badalado filme homossexual recente “Primeiro Verão” (2000), tradução nacional para “Presque Rien”, que soube ser dirigido pelo mesmo Sébastien Lifshitz. Meu intento com este filme era acompanhar a nudez de Stéphane Rideau, um ator que marcara a minha infância por causa de sua participação no já clássico “Rosas Selvagens” (1994, de André Techiné). Não esperava – nem precisava, em instancia primária – que o filme fosse bom, mas ele foi “quase ótimo” também. Mexeu comigo e com meus sentimentos machucados de início de madrugada. Mexeu, mexeu e... Eis o gozo! Tive que dormir na cama de minha mãe, atormentado que estava com a beleza da canção do escocês Perry Blake que acompanha os créditos finais.

Numa descrição chinfrim, o filme é vendido aos consumidores do subgênero cinematográfico ostensivamente ‘gay’ como sendo uma trama de amor de verão entre um rapaz de 18 anos com graves problemas de depressão na família e um rapaz rebelde que abandona a escola para trabalhar e sustentar a si mesmo. Mas o filme é bem mais do que isso. E tão alinear e confuso (no bom sentido) quanto o filme posterior do diretor. Por vezes, não sabia se era eu que não estava compreendendo bem as idas e vindas da trama ou se havia cochilado. Tenho que ver este filme de novo, o quanto antes!

Numa das cenas mais particularmente encantatórias do filme, encontrei aquela que talvez seja a mais bela encenação masturbatória do cinema: depois de passar a tarde na praia com sua irmã embrutecida, o personagem de Jérémie Elkaïm vai tomar banho. Percorre seu corpo com a água de uma ducha móvel, de forma entediada e um tanto irritada, sendo que, na cena seguinte, ele acaricia seu pênis, igualmente tomado pelo fastio. O pênis amolece, endurece, alguém bate na porta, pode para ele se apressar e, sem que ele perceba, ele está sendo cúmplice de uma forma fisiológica e mui sobrevivencial de onanismo, à beira da pia. A sensualidade do momento é quase secundária. Não é uma situação pornográfica, é um momento de beleza e dor intensa. É uma cena linda que, só por ela, já garantiria a minha adesão favoritada ao filme do Sébastien Lifshitz, mas o roteiro segue além: são 100 minutos de drama. E, nas cenas seguintes, o protagonista tenta se suicidar, fuma sobre o cadáver de um passarinho que encontrara quando mijava em frente a uma árvore e banha um gato (“lindo, mas fedorento”) que encontrara na rua quando volta à casa de veraneio, depois de dois anos de ausência, para fazer as pazes com seu próprio passado de rejeições. Filme ‘gay’, talvez, mas surpreendente enquanto cinema humano, juro!

E, se com este filme, eu dou uma pausa nos vitupérios que costumo destinar a produtos conteudisticamente congêneres, mas formal e dramaturgicamente inferiores, “Primeiro Verão” será o filme que será eternamente marcado em minha memória por ser aquele que eu vi depois de ser acusado de ser “pior do que uma namorada”, por saturar quem eu venero na Terra de mensagens preocupadas e servis. Sou um idiota, sou patético, sou antipático. Mas, como o Sébastien Lifshitz se encarregou prontamente de demonstrar, não estou sozinho. Pelo menos, não em teoria!

Wesley PC>

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