sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

‘TE QUIERO, PUTA!’

Descobri o filme “Garotas de Programa” (2004, de Maria Lidón) graças a uma equivocada informação que o atrelava ao realizador catalão Bigas Luna – posto que é assim que a diretora assina seu filme, à època: Luna – mas me decepcionei deveras com seu conteúdo: a esbelta e loira Denise Richards interpreta uma antropóloga juvenil que decide escrever uma tese sobre homens e mulheres que se prostituem na Europa. E, aos poucos, a narrativa do filme vai se confundindo com o pseudodocumentário realizado pela personagem. Mas é tudo tão moralista, tão ruim, que lamentei ter gravado este filme de forma parcialmente indelével no disco em que selecionei produções culturais polêmicas com as quais tenciono espantar a famosa depressão natalina que me persegue. O filme é tão ruim que estimula a depressão, um lixo!

Entretanto, como não só de filmes ruins sobre prostituição vive o mundo, na noite de ontem reassisti ao clássico “Nazarín” (1958), da fase mexicana de Luís Buñuel. Tencionava presentear com este filme o irmão de um ex-colega de trabalho, que, coincidentemente, estava a visitar uma igreja localizada no conjunto residencial em que habito, mas uma contingência silenciosa impediu a efetivação de minha entrega material. Fica para domingo, portanto.

Revendo o filme, realizado pelo “ateu, graças a Deus” que recebeu o devido reconhecimento do Vaticano, deixei de gemer de satisfação diante da devoção eclesiástica e humilhante do protagonista por alguns instantes para perceber como o diretor inseriu dignidade na trama secundária do anão que se apaixona por uma prostituta que deseja se reabilitar. Tu és tão feia, mulher pública, mas eu te estimo muito”, diz o anão. “E tu pareces um girino sem patas”, responde a prostituta, “mas eu também te estimo”. A “justiça dos homens”, entretanto, impedirá que eles concretizem o amor que sentem um pelo outro. Mas já era tarde para impedir os efeitos benéficos em minha mente: eles se amavam, por mais párias que fossem considerados, um em relação ao outro. Como (quase) sempre, isso me basta. Por isso, canto ao som da banda alemã Rammstein:

“Entre tus piernas voy a llorar
Feliz y triste voy a estar
(...)
Te quiero, puta!”


Wesley PC>

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