segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

“SEM ISSO [A “PISTOLINHA DE CARNE”, A RÔLA], MEU FILHO, NÓS NÃO SOMOS NADA, NADA!”

Apesar de o nome do filme ser “A Última Mulher” (1976, de Marco Ferreri) e de a protagonista do mesmo ser a deslumbrante Ornella Muti, que exibe seu corpo fenomenal para a câmera em diversas seqüências, quem manda no filme é o jovem personagem de Gerard Depardieu. E, quando digo “manda”, quero ser mais do que literal: o operário Gerard manda no filme! Protesta no trabalho que os patrões e sindicalistas parecem ter feito um acordo para prejudicar os funcionários, cumprimenta-se com seus amigos defendendo a libertação chilena, vive sozinho em casa com seu filho pequeno, mas... Como é machista! Manda e desmanda em tudo e todos, desfilando a torto e a direito a sua superioridade fálica, a ponto de, depois de passar diante da tela da TV várias vezes, minha mãe perguntar, escandalizada: “por que este homem fica nu o tempo inteiro?”. Só vendo o filme para entender, Rosane!

Obra-prima: eis o que é “A Última Mulher”! Definitivamente, um filme que deve ser visto por qualquer um que reivindique modificações socialistas ou sindicais ou que ame uma mulher mas sinta ciúmes dela. Um filme definitivamente obrigatório, que eu não sabia que existia, como sói acontecer com algumas preciosidade européias mui contestadoras, até este ano. Como me faria bem ter visto este filme na adolescência! Um dos filmes que melhor utiliza discursivamente a nudez masculina em toda a História do Cinema, quiçá da Arte [bem mais do que o exibicionista e quase pornográfico “Sem Cortes” (2003, de Gionata Zarantonello), por exemplo, que focaliza em ‘close-up’ um pênis da primeira à última seqüência!], que culmina numa seqüência bem mais felizmente previsível que o escandaloso discurso publicitário do cartaz do filme: “amor, ódio, solidão, humor, sensualidade. Nada irá te preparar para o devastador clímax”. Para mim, prepara sim – e muitíssimo bem: o filme me deixou em perpétuo estado de estupor!

Naquela que talvez seja a minha seqüência favorita, Gerard recusa-se em aceitar de volta, em sua casa, a mulher por quem se apaixona freneticamente, mas esta se atira nua sobre ele, que a desdenha, a recusa, corre para a cozinha, abre uma revista pornográfica lésbica em que mulher sugam as vaginas umas das outras, e tenta se masturbar, mas não consegue se concentrar. Na cena seguinte, ele precisa besuntar seu órgão sexual com pomadas e ungüentos, tamanho o excesso de uso. Ah, se eu tivesse visto este filme com 12 ou 15 anos de idade, como eu aprenderia sobre a “alma masculina”, que tanto me encanta e me fascina. E que está dentro de mim também, aliás, convém acrescentar.

Tentando encontrar um paralelo com outros filmes, o entrecho de “A Última Mulher” e uma mistura de “Lua de Fel” (1992, de Roman Polanski) com “Anticristo” (2009, de Lars Von Trier), perpassado por situações de descoberta e desconhecimento sexual caras a “A Lagoa Azul” (1980, de Randal Kleiser), sendo ainda mais veemente em sua selvageria erótica que os três filmes juntos, sem qualquer demérito comparativo para cada um deles. Não preciso acrescentar que “A Última Mulher” tornou-se um dos meus filmes favoritos, preciso? Uma aula sobre o que é ser homem, ter um homem, desejar um homem. Como me identifiquei com a seqüência em que Gerard põe seu filho de menos de 2 anos de idade para beijar a vagina de sua amante Valerie. Se eu tivesse um pai, ele teria feito o mesmo comigo, teria me ensinado algumas proposições básicas sobre masculinidade, teria me direcionado a admoestação preventiva que intitula esta postagem? Obra-prima!

Marco Ferreri é um gênio, Ornella Muti é deslumbrante, e o corpo perenemente nu e flácido do jovem e rechonchudo Gerard Depardieu é um troféu mnemônico para os meus orgulhosos e frustrados desejos amorosos recentes! E tu sabes do que estou a falar, não sabes?

Wesley PC>

3 comentários:

tatiana hora disse...

essa frase-título é impagável kkkkkkkk

Antonio Heras disse...

qué gusto por el despelote tenía el señor depardieu de joven! y cuánto se lo agradezco!

:)

Pseudokane3 disse...

Nosostros, mi caro amigo de España, nosotros lo damos gracias! (risas)

E, sim, Tatiana, no filme em pauta, a frase-título esmaga. te recomendo, de coração!

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