domingo, 5 de dezembro de 2010

O DINHEIRO EM FILME DE ROBERT BRESSON, O DINHEIRO EM MINHA CASA E O DEUS VIVO EM QUE ACREDITO:

Na manhã de hoje, vi finalmente “O Dinheiro” (1983), de Robert Bresson, um filme que há muito ansiava. Na trama, baseada em conto de Liev Tolstoi, um rapaz entrega uma nota falsa de 500 francos numa loja, gesto criminoso este tão simples, que, ao ser repetido várias e consecutivas vezes por várias pessoas, acaba por condenar um inocente trabalhador à prisão que, indignado pelo modo como o mundo o tratou, finda cometendo uma chacina, assassinando a família inteira da família que lhe deu guarita depois que ele sai da cadeia. Mais ou menos isso.

Como todos sabem, o diretor responsável pelo ótimo e doloroso filme acima é modernizador pascaliano, um indivíduo que crê na noção de “Deus invisível” e que, como tal, refuta sobremaneira, a tendência de algumas pessoas em converterem o dinheiro em “Deus vivo”, como o fazem alguns declarantes no filme acima citado. E, enquanto eu o assistia e ficava perplexo diante de suas cenas dramaticamente esfuziantes, minha mãe chorava, minha cadela se escondia sentindo dor nas costelas e meu irmão chutava com violência os móveis de seu quarto. Todos nós havíamos dormido após as 3h da madrugada hoje: ele enfrentara uma abstinência de ‘crack’, minha mãe impedia veementemente que ele saísse de casa e empenhasse bens pessoais a fim de conseguir a droga destrutiva, minha cadela Zhang-Ke roía o chinelo novo que ele comprara por R$ 60,00 e eu pelejava para dormir, depois de ter estudado algumas apostilas sobre redes sociais cibernéticas, para um seminário que terei que apresentar daqui a uma semana. Uma situação calamitosa como sou obrigado a enfrentar desde que me entendo por gente.

Quando liguei meu celular, percebi que uma pessoa muito querida precisou de um favor meu num instante em que eu não tinha como estar comunicativamente disponível. Pedi desculpas pelo acontecido, expliquei sucintamente as razoes de minha ausência e comuniquei-lhe que me ponho ao lado da mártir Joana d’Arc, quando obrigada a responder, amarrada à fogueira que a consumiria, se estava experimentando um momento de graça, apenas responde: se eu não estiver, que Deus me faça estar; se eu estiver, que Deus me conserve assim”. Faço minhas as palavras dela!

Wesley PC>

2 comentários:

tatiana hora disse...

este, como todos que vi dele, é formidável.
uma coisa muito interessante que Deleuze falou deste filme em A imagem-tempo foi que o Bresson cria uma espécie de imagem-táctil neste filme. a câmera é guiada por gestos das mãos que tocam dinheiro, que seguram armas...

Pseudokane3 disse...

Pois é...
Não lembrava deste trecho deleuziano, mas o modo como ele age CONTRA a coisificação do indivíduo remeteu-me deveras ao primeiro e melhor petardo do Michael Haneke, O SÉTIMO CONTINENTE (1989)

Comentário mais do que pertinente o teu. Juro que fiquei manipulando objetos sonoramente, que nem os personagens, após a sessão. Filme que dói, meu Deus!

WPC>