segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

“EU NÃO SEI O QUE EU FARIA SE FOSSE CEGO”... “ACOSTUMARIAS-TE”, DISSE UM PERSONAGEM CEGO, EM PRONTA RESPOSTA.

Quando eu era pequeno, imaginar se um deficiente visual sonhava com imagens era uma reflexão recorrente. Desde esta época, portanto, ficar cego era uma possibilidade que muito me atemorizada. Nos últimos dias, em razão de uma forte dor em meus globos oculares, pensei novamente neste dilema, nunca respondido a contento desde que eu era criança: com o que os cegos sonham?

Por pura coincidência, no meu horário de almoço de hoje, assisti a dois curtas-metragens sobre o tema. No primeiro, “O Cego Estrangeiro” (2000, de Marcius Barbieri), mais interessante na proposta que em sua execução, um narrador cego conta à platéia a estória de alguns homens que se apaixonam por uma funcionária de livraria, viciada em leitura, sendo que, a fim de conquistá-la, eles passam a ler bem mais. Tudo o que vemos são uma tela negra e as legendas, visto que o cego fala num idioma inventado para o filme. No segundo, “Eu Não Quero Voltar Sozinho” (2010, de Daniel Ribeiro), quase uma obra-prima, um rapazinho cego apaixona-se por um colega de classe, causando ciúmes em sua melhor amiga, apaixonada por ele. O primeiro vale pela tentativa. O segundo é uma aula de tudo o que de melhor pode ser atrelado ao Cinema enquanto diversão, projeção onírica e requisição por diretos humanos. Vale a pena falar mais um pouco sobre o segundo, portanto.

Em “Eu Não Quero Voltar Sozinho”, o protagonista, cego desde que nasceu, pergunta a sua melhor amiga se ele é bonito. Ele é. Num dado momento, ele convida o rapaz por quem é apaixonado para visitar a sua casa e, crente de que este está escovando os dentes num banheiro, é flagrado cheirando uma peça de sua roupa. Ninguém reclama de nada, visto que, segundo ele, uma das vantagens de ser cego é que todos lhe prestam favores o tempo inteiro. Porém, o brilhante roteiro do filme é mais complexo do que isso: lida com as nuanças passionais de uma forma encantadora, nada óbvia, salvo por uma decisão mui precipitada no trecho final. Mas nada que tirasse o encanto do filme. Tornou-se um dos meus favoritos deste ano. E, não por acaso, fui incluído entre os personagens que ampliaram os hábitos de leitura por causa da paixão sentida por alguém, conforme anunciado no desfecho de “O Cego Estrangeiro”. Será que eu me acostumaria mesmo com a cegueira? Pelo sim, pelo não, estes dois interessantíssimos curtas-metragens demonstram que, na situação hipotética em pauta, este seria o menor dos meus problemas...

Wesley PC>

3 comentários:

tatiana hora disse...

ah, que legal que você gostou deste filme. ele me emocionou muito!
e é verdade, o final foi meio precipitado mesmo...

Tiago de Oliveira disse...

Rapaz, vi recentemente um filme que você indicou a Jadson.

Como estrelas no céu...

Wesley, chorei do inicio ao fim. Fiquei extremamente emocionado no melhor do melhores dos sentidos.

Arion disse...

Hola, ubiqué tu blog a través de Querido Peliculario de Bertoff. Y déjame decir que ha sido un buen hallazgo.

Me encantaría que te sumes como seguidor a mi blog, y por supuesto, yo haré lo mismo.

___________________________
www.artbyarion.blogspot.com