sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

É SAUDADE, Ê SAUDADE!

Acabo de ver “Fados” (2007), documentário de Carlos Saura comprometido com a sobrevivência contemporânea das tradições ibéricas mais longevas e, para além de o resultado não ser tão qualitativamente decente quanto “Flamenco” (1995), mas bem menos extenuante no que tange ao prazer de se ver e ouvir, eu pensei muito em tudo aquilo que me causa saudades. Afinal de contas, fado é um ritmo que toca diretamente o lado nostálgico de nosso coração. E foi tão bom ver este filme ao lado de minha mãe, que, desde já, nem bem quatro horas da tarde, já manifesta sua habitual repulsa às comemorações de fim de ano: “se alguém me telefonar, é para dizer que não estou. Não quero falar com ninguém!”. Sei que tenho a obrigação de respeitar a sua reclusão, mas... Como é difícil lidar com esta tristeza quase esbravejante que a ataca sempre que o ano está prestes a findar! Puxa, fico tão triste por ela, queria fazer algo, mas não consigo. Pior: um grande amigo convidou-me para uma festa com gente bonita e desconhecida, mas não sei se posso ir, não sei se tenho o direito de deixá-la sozinha. Sei que ela quer que eu vá, sei que ela quer que eu me divirta, mas me irmão mais novo já está prestes a dar sinal de cólera, visto que o seu salário mensal está bloqueado. Ou seja, ele só vai poder sacar seu dinheiro no dia 3 de janeiro do ano que vem, de maneira que seu ‘réveillon’ será completamente parco, no plano monetário do termo. E eu com tudo isso? Eu que revi “Jamón, Jamón” (1992, de Bigas Luna), um dos filmes preferidos de minha pré-adolescência, ao lado de meus dois grandes amigos-irmãos na noite de ontem, eu que tenho delírios similares aos dos personagens, mesclando tragédias familiares e desejos eróticos incontidos, eu que não sou apenas “eu”, eu que tenho gente para cuidar, gente que depende de mim, eu que... eu... eu... Acho que falo muito de mim! Que venha o que vier, quem viver, verá!

Wesley PC>

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