terça-feira, 2 de novembro de 2010

“UM CAMINHÃO DE GELO ME ATROPELOU. E A TI, O QUE FOI TE ATINGIU?”

Fazia tempo que eu não via um filme mudo insistir tanto na descrição minuciosa da tristeza de um personagem. Acho que desde “Lírio Partido” (1919, de D. W. Griffith), eu não percebia tantos adjetivos lúgubres como weary, grim, suffering, guilty ou mesmo bitter agrupados num mesmo conjunto de intertítulos. Tratava-se de “Flesh and Blood” (1922), belíssimo filme triste de Irving Cummings que vi na manhã de hoje.

Na trama, o multifacetado Lon Chaney interpreta um homem que foge da prisão após 15 anos de injusta reclusão. “Era perseguido como se fosse uma besta selvagem, mas nem de longe assistido pela natureza quanto o são estas feras”, diz a legenda inicial. À medida que o filem avança, sabemos que ele possui um amigo chinês que o auxiliará no plano de vingança contra o rico empresário que o denunciou. Mas antes ele quer saber do paradeiro de sua esposa e de sua filha: após muito cansaço, e fingindo-se de aleijado, ele descobre que a primeira morreu e que a segunda é uma esperançosa missionária religiosa, prestes a se casar justamente com o filho do seu arquiinimigo, que, obviamente, não aprova o matrimônio. O que acontece depois só deve ser revelado a quem se dispuser a ver este belíssimo filme, mas não posso me furtar aqui de transcrever em letras maiúsculas o belíssimo apotegma final: A FELICIDADE DISPONIBILIZA ESTRANHOS CAMINHOS PARA AQUELES QUE OPTAM POR ESCOLHER OS PASSOS ATRAVÉS DOS QUAIS IRÃO PERCORRÊ-LA. Não parece óbvio? Por mais que seja, a audiência ao filme revela uma dulcíssima e amara surpresa. Este tipo humano, demasiado humano de filme mudo simplesmente me encanta! O questionamento acima destacado, formulado por um garotinho deficiente quando se depara com o choroso protagonista, não me deixa mentir...

Wesley PC>

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