terça-feira, 16 de novembro de 2010

“TU NÃO ESTÁS A SENTIR ISTO. É APENAS O VÍRUS AGINDO...!”

Finais de temporada de seriados televisivos são sobremaneira elucidativos por pelo menos dois motivos: 1 – os produtores precisam “presentear” o público com revelações e clímaxes arrebatadores, que validem o esforço audiente deles até então; e 2 – estes mesmos produtores precisam de “ganchos” para que o público permaneça fiel na temporada (não raro, oportunista) seguinte. Pois bem, de ontem para hoje, assisti aos três últimos episódios da primeira temporada de “House” e fui posto à prova em ambos os motivos, tanto em forma quanto em conteúdo. Seguem resumos de meu espanto agradecido:

Episódio 20, “Love Hurts”: bastaria o título para que eu gemesse de satisfação. Uma das médicas da equipe do protagonista é procurada por ele, a fim de reaver o seu emprego, mas ela já prometera integrar a equipe de outro hospital. Ele pergunta se não tem algo que possa ser feito para que ela mude de idéia. Ela, então, se confessa apaixonada por ele e diz que só voltará para o hospital em que ele trabalha se ambos saírem juntos, como se estivessem num encontro romântico (vide foto). Glupt, amor dói! Amor não-correspondido mais ainda! Amor fadado ao fracasso pessoal, mas ao sucesso colaborativo profissional ainda mais ainda. Glupt quádruplo!

Episódio 21, “Three Stories”: dirigida por um diretor afetado (Paris Barclay) que se pretende cheio de estilo, este episódio segue uma estrutura propedêutica muitíssimo diferente do que até então estávamos acostumados. O episódio é conduzido de forma alinearmente reconstitutiva, de maneira que três pacientes diagnosticados com problemas numa das pernas são ameaçados de amputação. Um dos três pacientes revela-se o próprio Gregory House (numa atuação ainda mais exigente e bem-sucedida do ótimo Hugh Laurie), que aqui se revela temente à dor e às frustrações amorosas. Glupt! Achei presunçoso, mas, enquanto lição de vida, é uma belezura!

• E, por fim, o episódio 22, “Honeymoon”: um final brusco de temporada, inconcluso, aberto, com uma imagem recorrente em ‘close-up’ do protagonista ingerindo os comprimidos analgésicos em que é viciado, enquanto a trilha sonora executa solenemente “You Can’t Always Get What You Want”, de The Rolling Stones, quando o protagonista falha ao tentar caminhar sem o apoio de sua muleta. Neste episódio, ele se declara ainda apaixonado por uma antiga namorada, enquanto a Dra. Cameron (Jennifer Morrison), apaixonada por ele, consola-se ao saber que ele é capaz de amar, mas entristece-se quando percebe que o alvo deste sentimento é outra pessoa. Glupt! Meus planos de ignorar as temporadas seguintes foram por água abaixo!

Ao final da temporada, comportamentalmente distinta do início, visto que várias gradações de sentimentos acometeram os personagens [destaco: a traição pusilânime do Dr. Chase (Jesse Spencer), o destaque ativo da expressiva Dr. Lisa Cuddy (Lisa Edelstein), a instabilidade afetiva do Dr. Wilson (Robert Sean Leonard)], constato comigo mesmo que o que mais me interessa nos episódios não é o surpreendente compêndio de diagnósticos fantásticos e supra-detetivescos dos protagonistas, mas sim a avaliação contundente das variegadas possibilidades de relacionamento extra-, intra- e efetivamente profissional que pode ocorrer em qualquer ambiente, sendo a tensão hospitalar muito relevante enquanto metáfora mais geral. Tentei telefonar para o rapaz que me emprestou os DVDs com os episódios, mas este é misantropo no que tange às interações mediadas por bônus de telefonia celular, de maneira que terei que suportar algumas horas para descobrir se ele se sentiu traído ou não ao constatar a fragilidade evidente do arrogante protagonista, cuja carência é frisada em cada sutil movimento da extraordinária composição de Hugh Laurie. Tornei-me fã do seriado, por dentro e por fora. Entenda-se isto como melhor convier.

PS: o título desta postagem é, nada mais nada menos, que a reprodução de uma fala do último episódio, quando o atual marido da ex-namorada do Dr. House tem um ataque de ciúmes ao vê-la conversar intimamente com ele. Afinas de contas, não era um sintoma da doença que a médica que pronunciou a frase pensava, mas sim uma reação típica de um ataque de pânico corriqueiro, tornado mais preocupante em razão do estado delicado de saúde do paciente. E ainda me chamam de paranóico...

Wesley PC>

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