sábado, 20 de novembro de 2010

“SENHORA MINHA, COM CERTEZA NUNCA VIU CAIR UM CARTEIRO”...

E, quando eu era pequeno, lembro que, quando o funcionário da agência dos Correios descia a rua, os meninos, em polvorosa, gritavam: “carteiro, tem revista?”. Um dia, eu ganhei uma destas revistas, uma daquelas da Hermes, destinada a vendas. Lembro que, no mesmo dia, eu e alguns vizinhos provocamos inocentes ereções ao encostarmos nossos pênis pequenos nas fotografias de modelos em roupas íntimas, que posavam para vender cuecas. Ai, ai, não se fazem mais anúncios eróticos como os de antigamente...

Por isso, fui assaltado por algo mais do que nostalgia no 53º capítulo do clássico “Quincas Borba” (1891), de Machado de Assis, em que Sofia, a esposa contente de um fazendeiro, sentia-se incomodada e chateada com tudo ao seu redor, depois de ter sido alvo dos galanteios de um capitalista por ela apaixonado, até que espia um carteiro levar um tombo e não consegue conter o riso. Deixa vazar uma gargalhada altissonante, que, quiçá censurada por alguns leitores ou leitoras, merece a defesa pessoal do narrador, que acrescenta:

“Às vezes, nem é preciso que ele caia; outras vezes nem é sequer preciso que exista. Basta imaginá-lo ou recordá-lo. A sombra da sombra de uma lembrança grotesca projeta-se no meio da paixão mais aborrecível, e o sorriso vem às vezes à tona da cara, leve que seja, – um nada. Deixemo-la rir, e ler a sua carta da roça”.

E inicia-se em seguida o capítulo LIV. Mas aquele sorriso convidativo repercutirá para sempre em minha mente apaixonada de leitor...

Wesley PC>

Um comentário:

tatiana hora disse...

de gargalhadas altissonantes eu entendo!