quinta-feira, 25 de novembro de 2010

NA MINHA ÉPOCA, VIRGINDADE VALIA ALGUMA COISA...

“Aníbal sentiu que devia fazer qualquer coisa. Sabia o que faltara e o que faltava. Dar-lhe ternura, para apagar a primeira má impressão que iria acompanhar a vida dela. Mas estava demasiado cansado. Nem o corpo jovem o excitava agora. A mão no ventre dela não tinha calor, acariciava apenas mecanicamente, pelo sentido intelectual dum dever.

- Vês? Não sou só eu que tenho o direito de me desiludir. Também tens o direito à desilusão, é o único direito real que temos.
- Não percebi. Mas não falaste para mim, pois não?
- Tens razão, nunca falo para os outros.

Ficaram deitados, lado a lado, a mão dele parada por cima do ventre dela. Muito tempo. Depois ela levantou-se, olhou a cama, disse:

- Há sangue no lençol.

Ele não respondeu. Nina devia saber era normal ou não estava informada? Ele sentia dever uma explicação, uma fala qualquer, não para ensinar, apenas para estabelecer um contacto humano. Ela pôs a blusa e a saia. Ficou quieta, muito tempo, contemplando-o, esperando certamente algo mais. Uma palavra de carinho, pelo menos. Ele não mexia.

- Amanhã vou com Mateus.

Saiu do quarto. Ele sentiu-a bater a porta da rua. Vais só desgraçar a vida, pensou. E eu não posso fazer nada”.


Trata-se de um dos diálogos finais do nono capítulo de “O Polvo” (1982), terceiro trecho do extraordinário romance angolano “A Geração da Utopia”, de Pepetela, mas esta dolorosa situação em que uma afoita mulata é deflorada por um amargurado guerrilheiro bem que poderia ser a resposta ficcional que eu teria dado àquele menino bonito e com olhos semicerrados quando este me perguntou:

"Tu és pessimista? Não, não é?”

Mas não foi o que eu disse. Cheguei em casa, tomei um copo de sorvete de flocos e tentei assistir ao filme pornográfico “Debbie Does Dallas” (1978, de Jim Clark) na íntegra. Aos 60 minutos de duração, eu já estava enfadado. Faltavam ainda 20 minutos para o filme acabar. Levantei para beber água e o DVD parou de funcionar. Não vi o final. Quase ouso dizer que não quis realmente ver. Mas preciso saber como termina o filme...

Na trama – se é que se pode dizer isso – a protagonista deseja participar de um concurso de líderes de torcida, mas não tem dinheiro para viajar. Arranja emprego numa biblioteca, mas é flagrada fazendo sexo oral com um dos namorados. Seu patrão a repreende, leva-a para sua sala e dá tapinhas em sua bunda. E ela goza e consegue o dinheiro que precisa. Homens feios, trilha sonora ruim, cenas de sexo artificiais, trama insuportavelmente inverossímil. Péssimo filme. E eu lamentando (a perda de) uma virgindade acima ou abaixo de qualquer taxonomia...

Wesley PC>

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