sábado, 6 de novembro de 2010

BEATRIZ RIMA COM GENETRIZ E IMPERATRIZ, SENDO AQUELA QUE FAZ O POETA FELIZ, OU DEPOIS DO INFERNO, VÊM O PURGATÓRIO E O PARAÍSO!

“Quando o deleite, ou bem a dor intensa
Uma de suas felicidades prende,
Nossa alma nela se recolhe tensa,
E a outra qualquer decerto não se estende;
Onde se mostra o erro, claramente,
De quem uma alma múltipla pretende”.
(início do Canto IV – “Purgatório”)

Comecei, hoje, a ler o que se segue
Das narrações dantescas pelo além-morte
Para meu gozo, estas permitem que eu negue
As inaceitas propagações da sorte
Dado que o que ali acontece
É fruto do que, da almas, entende-se como merecimento.

Lamento muito quando eu vejo
Diante de uma TV a anunciar
Parodistas de um jornalismo malfazejo
Num contexto sub-policial utilizar
Derivações impróprias do que se entretece
Como um largo e descabido desentendimento.

Pois, se o populacho este livro cita,
Preso está a um deturpado sensacionalismo
Fingem os maus que a realidade apenas imita
O que no livro é visto como falta de batismo
Afinal de contas, tem-se, neste mundo, o que se merece
Ou de nada mais vale este consolador pensamento?

De minha parte, tenho, tal qual Dante, uma musa
E juro que, por intento próprio não a maldo
E, se esta, formas e pronomes masculinos usa,
É, nesta terra, ele conhecido como __________.
E, se o não-preenchimento desta lacuna nos desapetece,
É porque somos vítimas da ausência de consentimento.

Peço perdão, aqui, por ser inglório da poesia
Mas, ainda assim, filho e devoto das tentativas.
Por dentro, choro, sempre ao fim do dia
Quando incômodas se denotam minhas invectivas
E, se o conjuntos destas, num limbo perece
É porque meu fanatismo associa-se ao tormento.

Voltarei, portanto, ao que tenho em mãos como egrégia leitura
E, por hoje, não mais macularei as palavras com estas rimas
Enquanto folheio o livro, por vezes, sinto a alma impura
Mas o autor, me incita: “não te reprimas”!
E, se clamo por perdão tanto quanto empreendo uma prece,
Assento que, do meu muso, a mim só provém contentamento”.


Não nasci para escrever poesia, nem tampouco tinha este intento ao forçar-me a redigir estas linhas, mas espero que um provável leitor enxergue com um olhar bem-humorado este pusilânime intento de confessar-me gratificado diante do correspondente másculo e terreno do que, para Dante Alighieri, era a Beatriz que o compungia a deambular por terrenos tormentosos para almas ainda não-expiadas. Sou um covarde e, neste terreno literário, desprovido de talento, mas sou sincero. E, como tal, emociono-me com o que leio ao final do canto V do “Purgatório”:

“’Depois que houveres retornado ao mundo,
Já descansado desta estrênua via’
- falou alguém, calando-se o segundo –
‘recorda-te de mim, que sou a Pia:
Sina me fez, e me desfez Marema;
Aquele o sabe que a aliança um dia
Me deu, ao desposar-me, co’ uma gema’”.


Lindo, lindo, lindo!

Wesley PC>

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