quinta-feira, 21 de outubro de 2010

“WHAT IS THIS TERROR? WHAT IS THIS ECSTASY? HE THOUGHT TO HIMSELF. WHAT IS IT THAT FILLS ME WITH EXTRAORDINARY EXCITEMENT?”: ESTAS SÃO AS PERGUNTAS.

A resposta é um nome próprio!

“Terminei ‘Mrs. Dalloway’”, escreveria eu se fosse outra pessoa. “Confuso estou”, diria, com certeza, o nome próprio de outra pessoa atrelado ao pronome condicional. E, para meu próprio espanto, ainda não comentei o que este livro pungente e forte causou-me ao final. Faço-o agora, à guisa de cotejo: era quase 1h da madrugada quando virei a última página deste romance e um dado personagem perguntava a si mesmo o que era aquele êxtase, aquele terror, aquela excitação que o preenchiam. Autora, instância narrativa, personagens e leitor respondem em uníssono com o nome da protagonista. “There she was” era o motivo. “You are” é o início de uma série de conseqüências. E, se eu fosse outra pessoa – o complemento condicional me perseguindo novamente! – talvez eu pudesse apenas filiar-me ao conteúdo do romance. Mas, parafraseando a cartilha analítica de Antonio Cândido, conteúdo, forma e impacto de leitura não se separam: e “Mrs. Dalloway” instalou-me num estado reflexivo perene.

Polemistas superficiais costumam lançar por questão um falso dilema: no que tange às obras escritas por Virginia Woolf, “Mrs. Dalloway” (1925) é melhor que “Orlando – Uma Biografia” (1928) ou vice-versa? Não ouso macular-me com uma resposta. Ambas são obras-primas inquestionáveis! Com o segundo, a identificação foi pessoal. Com o primeiro, a identificação foi universal. Em ambos, a identificação foi identificada. Virginia Woolf fala a minha língua, escreve para mim! E “mim” pode ser qualquer pessoa. Por isso, esquivo-me de justificar o porquê.

Nas quase duzentas páginas de narrativa e fluxo consciencioso de “Mrs. Dalloway”, pelo menos duas dezenas de personagens aristocráticos e depressivos desfilam diante de nós, em vários estágios temporais paralelos. Ora, eles são jovens. Ora, eles são velhos. Ora, eles têm esperanças. Ora, eles sentem que suas almas estão mortas. Ora, até mesmo um repolho ao luar designa um ideal supremo de beleza. Ora, morrer parece uma solução viável para enfrentar o sofrimento inexplicável. Ora, doer dói. Ora, viver dói. Ora, viver é dor?

Desisto. Sou incapaz de criticar este livro de forma objetiva!

Wesley PC>

4 comentários:

Tiago de Oliveira disse...

Estranho o que se segue porque achei, por um momento, que isso nunca aconteceria, caro amigo Wesley: essa estranha comunicação, tua palavra não dirigida a mim, e ao mesmo tempo, apontada como lança pontiaguda paralisada no ar esperando um: VAI!
Hoje pela manhã, questionei a mim mesmo: que estranha consciência é aquela, tão profunda e vasta? O que é isso? E por que quando penso em medo penso em consciência? É uma grande pena que não tenho tua coragem em prosseguir na leitura da autora. Acredite, não é frescura é instinto de sobrevivência. Não a suportaria mais, juro que não, especialmente agora. Tentei pensar como pensam muitos: fraqueza. Foi fraqueza o suicídio de Virgínia ou foi o sintoma de vasta e profunda consciência? A “chavinha” abriu uma porta maldita que nunca mais será fechada. Maldita foi a hora em que eu abri as páginas de Mrs Dalloway. Amaldiçôo porque é o que me resta. Embora haja a vasta e profunda consciência em Clarice, há ainda uma espécie de “animação” ou “pulsação” que eu não sei nem me atrevo a explicar, “um sopro de vida”, uma “água viva” (paro por aqui).
Li o Mrs Dalloway em português e lembro de uma passagem ligeira que não sei como está em inglês, creio que Clarissa está num bonde ou coisa assim e ela diz ligando a alguma coisa agora vaga na minha lembrança (ali, ali, ali...) e lembro ainda que comentei essa passagem para Jadson há mais de 4 anos. Acha que encontraria essa passagem no exemplar que está com vc? Algo me guia a isso. Essa passagem me traz uma saudade estranha.

Pseudokane3 disse...

... E FOI!

Barra-pesada.
Lindo...
Mas dói!

E eu (te) entendo, neste sentido.

WPC>

Pseudokane3 disse...

Quanto à passagem, é complicado, porque ela passa... Apesar de repetirem que "Clarissa está", ela passa... E passa muito...

Pelo bonde, pelas ruas, por pessoas, por suicidas, pelo amor...

WPC>

tatiana hora disse...

já dizia Cabral:
o que vive não entorpece
o que vive fere
o homem, porque vive,
choca com o que vive
viver é ir entre o que vive.