sábado, 30 de outubro de 2010

“ – UM SODOMITA É UM SODOMITA. VOCÊ NÃO SABIA? É UM ‘DANSHOKUKA’”.

“Alguma diversão era essencial. Comecei a aparecer freqüentemente nas reuniões que aconteciam na casa de um velho amigo, sabendo que não deixariam nada em minha mente senão a lembrança de conversa ociosa e um gosto vazio”.

Duas confissões dominantes perpassavam minha mente durante a leitura das páginas finais do soberbo romance japonês “Confissões de uma Máscara” (1948), do mestre Yukio Mishima, que, desde já, é um dos meus escritores favoritos, um dos mais célebres autores com o qual tive orgulho de entrar em contato, um autor brilhantemente recorrente, tanto que, em sua única experiência como diretor cinematográfico, “Rito de Amor e de Morte” (1966), realizado quatro anos antes de seu suicídio ultra-romântico e político (ou melhor, ultra-romântico. Logo, político), tudo o que eu lera sobre ele e a partir dele estava lá, verborrágico e simbólico como somente um filme mudo japonês poderia ser... E esta é a minha segunda confissão!

No filme, um militar atormentado por um dilema ativista após um golpe de estado, recusa-se terminantemente a assassinar amigos considerados traidores da pátria agora tomada por um novo poderio dominante e, como tal, resolve cometer suicídio. Sua esposa, devota e submissa por vontade própria a seu amor, resolve matar-se também, não antes sem abdicar de qualquer resquício de timidez e amar cada detalhe minúsculo do corpo de seu esposo e de seu próprio, ambos tendentes a uma união perpétua que atravessa a vida. E, mesmo preferindo associar o amor à vida, e não à morte, eu não pude deixar de exultar diante deste filme soberbo. Mesmo que eu não consiga crer que dirimir a própria existência possa ser uma solução ideal para problemas éticos irresolvíveis, eu entendi claramente o que se passava ali: Yakio Mishima vai direto ao ponto: ele nos cativa, ele é genial!

O que me leva à primeira confissão, que tem muito a ver com o excerto destacado no início desta postagem, que se explica na prática com algo me aconteceu na madrugada de ontem para hoje: por alguns minutos, estive presente numa sessão em que pessoas que gosto viam um filme bobo e dublado num equipamento avançadíssimo de ‘home theater’. Por mais que eu gostasse deles, não poderia me submeter a este tipo de oxímoro tecnológico. Isto eu não podia. Por isso, eu dormi cedo enquanto meus companheiros celebravam o que, para eles, era divertido. E eu não tenho o menor direito de julgá-los. Eles são eles, eu sou eu, e Yukio Mishima é um pouquinho eu também – e/ou vice-versa!

“De repente, fui atingido pela dor aguda que provém de se ficar olhando demais para alguma coisa. A dor anunciou: você não é humano. Você é um ser incapaz de relacionamento social. Você não é mais que uma criatura, não-humana e de algum modo estranhamente patética”.

Wesley PC>

Um comentário:

tatiana hora disse...

esse filme é belíssimo!