terça-feira, 26 de outubro de 2010

“TU JÁ FODESTE COM TEU PAI? JÁ BATESTE EM TUA MÃE? JÁ LEVASTE UMA PEDRADA NA CABEÇA?”

Se tu disseste “sim” ou “não” a qualquer uma das perguntas acima, tu tomaste partido e, como tal, tu deves conhecer “Visitante Q” (2001), mais um absurdo e genial filme do mais hiper-moderno dos cineastas japoneses: o arrebatador Takashi Miike. A cada novo filme dele que vejo, sou deslumbrado com sua inventividade pervertida, mas o que encontrei aqui não tem precedentes: é simples e puramente genial! E, pior: poderia ser mais pessoal do que parece...

O cinema hollywoodiano clássico acostumou-nos a entender que a família nuclear tradicional é composta por quatro membros: mãe, pai, filho e filha. Este japonês em particular desvirtua esta fórmula, mesmo obedecendo-a quantitativamente. Na primeira cena do filme, a filha chupa o pênis do seu pai, enquanto fotografa-o repetidas vezes. Na cena seguinte, a mãe da família é mostrada injetando heroína em sua coxa esquerda. Em seguida, o filho espanca sua mãe repetidas vezes e depois coloca uma máscara anti-gás na cabeça e deita-se no quarto, logo incendiado por um ataque de fogos de artifício proveniente dos vizinhos. Quando o pai chega em casa, cansado de tanto ejacular no interior da vagina de sua filha, descobrimos que ele é um jornalista traumatizado pela cena mostrada em foto: quando realizava uma enquete com adolescentes locais sobre violência urbana, estes derrubam-no no chão e enfiam o microfone em seu ânus. E é nesse contexto que o visitante do título [inspirado no personagem de Terence Stamp em “Teorema” (1968), de Pier Paolo Pasolini] entra em cena, provando que minha família disfuncional vai muito bem, obrigado!

Minutos antes de eu começar a ver este filme – e me chocar, escandalizar e admirar cada fotograma de película – meu irmão chega em casa contando que um traficante fora assassinado num campo de futebol improvisado, próximo a nossa residência. É o terceiro assassinato semelhante que ele presencia e, como tal, sua maior interjeição foi a seguinte: “o cara estava com o rosto tão diferente. Não sabia que a gente mudava tanto quando leva quatro tiros, não!”. E, por alguns instantes, eu pensei que o filme era pornográfico. A cena de sexo incestuoso do início demorou tanto, que minha mãe ficou incomodada e saiu da sala. Imagina só se ela estivesse presente quando o pai de família assassina uma colega de trabalho e seu pênis fica preso na vagina cadavérica dela, sendo necessário jarros de vinagre e uma seringa com heroína para sair. Ou quando o visitante precisa de uma sacola de lixo para recolher órgãos humanos posteriormente decapitados e depara-se com a mãe de família vestindo plástico e derramando litros e mais litros de leite humano de seus seios. Por outro lado, a cena final é um primor de redenção. Queria que ela se dispusesse a ver o filme comigo. Iria nos fazer bem. Genial, pura e simplesmente!

Wesley PC>

2 comentários:

Michelle Henriques disse...

Eu estava para ver esse filme há algum tempo, então seu post me fez correr para assistí-lo.

Confesso que eu tinha uma certa birrinha com o Miike. Demorei meses para ver "Audition" e no fim, não gostei. Mas depois de "Visitor Q" eu darei novas chances. Ele merece.

Um dos diretores mais dementes desse mundo. Merece respeito.

E o blog está ótimo, como sempre. :)

Gomorra disse...

Takashi Miike é gênio, Michelle.
E fiquei todo empolgado agora quando vi tua reação no Filmow (risos)

Filmaço este!

E ainda tenho ICHI - O ASSASSINO e CROWS: EPISÓDIO 0 esperando por mim aqui em casa. Uhuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!

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