terça-feira, 26 de outubro de 2010

“O QUE É, O QUE É: TEM UM OLHO SÓ, FALA FRANCÊS E GOSTA MUITO DE BISCOITOS?”

O pai do menino faz que não sabe. O garoto, então, tapa o olho esquerdo com uma das mãos e responde: ‘moi’! Era, ao mesmo tempo, um chiste e uma exigência: eu quero biscoitos! E o pai, prontamente, vai buscá-los. Alguns dias depois, ele estará morto em decorrência de um câncer pulmonar. E isto é, oficialmente, o que menos me interessa no desinteressante filme “A Última Música” (2010, de Julie Anne Robinson), que, ao final, pareceu-me minimamente simpático. Estaria eu apenas frágil e sujeito a este tipo de manipulação emotiva barata?

Por motivos diversos, o clima familiar aqui em casa está denso, pesado, desagradável. Minha mãe chora o tempo inteiro, sem motivos, e não me conta o porquê, enquanto meu irmão fica confinado o dia quase inteiro em seu quarto, desempregado e sem ter dinheiro para pagar suas altissonantes dívidas de drogas. E eu achei que ver este filme tolo, numa cópia dublada, iria alegrar minha mãe. E funcionou! Quem é que vai me dizer que agi mal?

Roteirizado pelo oportunista Nicholas Sparks, que já faturou bastante em cima do chororô adolescente em filmes como o ruim “Um Amor Para Recordar” ( 2002, de Adam Shankman) e o maravilhoso “Diário de uma Paixão” (2004, de Nick Cassavetes), este filme é protagonizado pela musa da Disney Miley Cyrus, que interpreta uma menina cheia de pantins, presa por ter roubado algo numa loja, deprimida desde que seus pais se separaram. Quando é obrigada a passar férias numa zona praiana, apaixona-se por um rapaz rico e loiro e seus dilemas existenciais assumem formas inusitadas enquanto ela tenta ler um famoso romance de Leon Tolstoi. Se, por um lado, o exemplar literário de “Anna Karenina” que ela tem em mãos faz com que ele se aproxime dela demonstrando sua capacidade citacional (“todas as famílias felizes se parecem, mas as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira”), por outro, ela parece não aprender muito com o que lê e mergulha num verdadeiro mar de agonia quando não sabe o que vestir no casamento de sua cunhada, por exemplo. É evasão demais para mim, mas minha mãe parecia entretida. E eu fiz força para ver o filme até o final...

Quando dei por mim, estava achando os personagens convincentes, a trilha sonora ‘pop’ engraçadinha (“I Fell It All”, minha canção favorita da canadense Feist é executada em alto e bom som!) e o drama ‘água-com-açúcar’ me pareceu inofensivo. Pareceu, apenas. Não o era! Mas deu para entender porque tanta gente cai nesta conversinha borocoxô: quando tudo está desmoronando ao nosso redor, sonhar com um romance ideal faz a gente suspirar e esquecer os problemas por algum tempo. Minha mãe de quase 70 anos, já avançada na menopausa, talvez discorde, mas ela ficou caladinha durante quase toda a sessão, levemente emocionada com o que se passava diante da tela. E eu com fome. Fome, palavra forte, com a qual rebato através de uma citação de Knut Hamsun que eu cria lembrar, mas... Esqueci. Esqueci! Deve ser a fome...

“Assim é o amor: por ela, que não me quis, eu trocaria todas as pessoas que me quiseram sem restrições”. Não é esta a citação, mas talvez sirva!

Wesley PC>

2 comentários:

Americo disse...

vi este filme! achei forçadíssimo! mas a surpresa: pra mim a melhor atriz foi a Miley, kkkkkkkk. enfim, enfim, não é horrível... ( errr)

ps.: ri quando falou pantim! kkkkkk

Gomorra disse...

PANTINS, no plural, que ela exagera. Ela nem está ruim, mas desgostei da personagem... Mas gostei das relações familiares, acho. Não me soou forçado, ao contrário do que tu destacaste. Mais um pouquinho e seria até um bom filme. Fofinho, acho...

WPC>