sexta-feira, 17 de setembro de 2010

“UMA CENTRÍFUGA DESCALIBRADA É REALMENTE ALGO MUITO TRISTE. MAS NUNCA ME FEZ CHORAR”...!

Eu tinha pensado em escrever algo sobre profissionalismo no título desta postagem, mas o brilhantismo do personagem interpretado por Hugh Laurie no excelente seriado “Dr. House” me ofereceu um novo caminho: assisti, há pouco, aos sétimo e nono episódios da primeira temporada, em ordem inversa, graças ao obséquio de um rapaz que trabalha comigo e que, na semana em pauta, esteve doente. Não gostei muito do nono episódio (“DNR”), sobre um jazzista paralítico que se recusa a ser submetido a um tratamento que prolongue a morte lente atrelada à doença de que padece, mas sou obrigado a admiti que este episódio foi muito elucidador não somente no que tange aos desígnios morais do protagonista do seriado quanto do próprio rapaz que me emprestou o DVD. O sétimo episódio (“Fidelidade”), por sua vez, deixou-me em transe positivo: genial em forma, conteúdo e possibilidades hermenêuticas decorrentes. Absolutamente genial!

No episódio em pauta, uma típica norte-americana patologicamente fiel a seu marido patologicamente fiel é internada com hipersônia. Dormia mais de 18 horas por dia e, ainda assim, estava assaz irritadiça. Após vários testes propedêuticos, caros ao brilhantismo do seriado citado, descobre-se que ela está padecendo de tripanossomíase africana, ou “doença do sono”, o que indica que ela foi adúltera. As conseqüências e/ou confirmações desta suspeita são geniais, bem como a situação confessional em que a frase-título é proferida, quando a doutora Allisson Cameron (Jennifer Morrisson) conta ao Dr. House mais um importante segmento de sua sofrida vida amorosa. Estive ao lado dela, chorando diante daquela centrífuga descalibrada...

Curioso é que esta série me trouxe à tona uma situação bastante dramática que tive que enfrentar no trabalho na manhã de ontem: o padrasto de uma garota que fora atropelada em frente à UFS na semana passada pediu-me uma declaração de matrícula. Ele não estava com uma autorização por escrito dela, visto que, além de perder parte do couro cabeludo, fraturar diversos ossos da face e ficar desdentada, a menina atropelada está internada, incapaz de realizar movimentos mais complexos como escrever algo. Emocionei-me sinceramente enquanto ele descrevia a gravidade das condições de saúde da menina, enquanto fiquei particularmente tocado quando ele disse que não sente rancor contra o motoqueiro que a atropelara, visto que, para além de ele ter ou não culpa, ele também está interando em estado grave e com muitas dilacerações espalhadas pelo corpo em decorrência da queda. Fiquei preocupado: “Deus meu, como farei para entregar esta declaração?!”. Ele precisava, seus argumentos eram justos e comprovadíssimos. Por sorte, a colega de trabalho que assume as funções de chefa esta semana sentiu-se convencida pelos argumentos dramáticos que eu resumi e pela sagacidade do padrasto da jovem atropelada, que, além de apresentar um atestado médico demonstrando a imobilidade da moça, trouxe também a certidão de nascimento dela e uma comprovação de que ele era agora casado com a mãe da mesma. Ufa! Sinto que fiz uma boa ação e um bom trabalho enquanto recepcionista, ao mesmo tempo. Mas não pude me esquivar de emocionar-me novamente, enquanto lavava os pratos e contava o episódio a minha mãe. Glupt!

Wesley PC>

2 comentários:

tatiana hora disse...

ao contrário da atitude que você teve, muitas pessoas que agem no trabalho como se não estivessem lidando com situações particulares, afetos, preocupações...
diriam apenas:
é preciso tal documento e pronto.
já vi disso e me entristece...

Pseudokane3 disse...

Geralmente, eu sou ranzinza na exigência de documentos, pois, tal qual acontece na série, as pessoas que atendemos MENTEM muito! Mas este padastro não... E eu estava decidido a arriscar: dependesse de mim, ele sairia dali com o documento em mãos, ou eu não me chamaria Wesley. Dependeu, graças!

Hoje, quando eu relembrei esta estória, vislumbrei a dor dela. E fiquei muito feliz, insisto, em ver que ele não estava rancoroso contra o motociclista que a atropelou. Foi um acidente. E estes acontecem...

Valeu pela confiança depositada, Tatiana!

WPC>