sexta-feira, 13 de agosto de 2010

TENTANDO FALAR SOBRE OUTROS ASSUNTOS – III: MAIS UM PROTESTO FÍLMICO DE ELOY DE LA IGLESIA!

Numa das cenas mais sutis e discursivas do clássico “Os Prazeres Ocultos” (1977), o estagiário de contabilidade heterossexual por quem seu chefe se apaixona obcecadamente pergunta ao mesmo se ele se submeteria a um tratamento que o curasse da homossexualidade. A resposta vem num átimo: jamais me submeteria a este tipo de tratamento, pois isto implicaria em deixar de ser quem eu sou”, resposta esta que eu já precisei defender em alguns momentos de minha vida tenra. No ano seguinte a este filme, o diretor e roteirista Eloy de la Iglesia voltaria a abordar este dilema através de um viés político socialista. O resultado está no impactante filme “El Diputado” (1978).

Acabo de ver esta preciosa obra de arte cinematográfica e quedo-me efusivo diante da genialidade protestante do roteiro, em que um deputado comunista luta com a inaceitação pessoal e coletiva de seus desejos homoeróticos, que, até então, “sempre foram vistos como sórdidos e marginais”. Numa prisão política, ele conhece um delinqüente erótico (Ángel Pardo, visto em foto), acostumado a receber dinheiro para fazer sexo com homens mais velhos. Este atua como cafetão e arranja inúmeros menores de idade para o consumo erotógeno do deputado Roberto (José Sacristán), que se apaixona violentamente por um deles. As conseqüências desta sarabanda de desejos irrestritos só não são mais trágicas porque são políticas, porque clamam por liberdade, uma liberdade democrática que não exime o espectador de uma crítica sagaz: como se pode falar em nome da igualdade irrevogável entre os indivíduos se o dinheiro é utilizado para corromper os lúmpens em prol de desejos íntimos? As lágrimas do protagonista respondem a esta questão com atos – acima de tudo, atos!

Wesley PC>

2 comentários:

Unknown disse...

Onde encontro a obra de De La Iglésia? Há algum centro de downloads?

Pseudokane3 disse...

Eloy de La Iglesia é encontrado facilmente no Ares... E só, pois o mundo ignora a existência deste gênio - ou ignorava, até então...

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