domingo, 29 de agosto de 2010

INGMAR BERGMAN, FELIZ?

Talvez “feliz” seja uma palavra muito forte, admito, mas “Juventude” (1951, de Ingmar Bergman) é um filme prenhe de esperança, sim!

Apesar de ser um dos mais leves, melhores e mais bonitos filmes do diretor, em minha opinião, “Juventude” é pouquíssimo conhecido. Ou era, até ser recentemente lançado em DVD e popularizado. Vi-o na tarde de hoje e ainda estou hipnotizado e encantado por seu fulgor juvenil. Um dos poucos filmes do diretor em que a protagonista pode se dar ao luxo de perguntar: “por que eu deveria estar chorando, se eu me sinto feliz?”. Quantas e quantas vezes pudemos encontrar este tipo de atitude advinda de uma personagem bergmaniana, em especial, feminina? Quantas?

Tudo bem que se possa dizer que alguns de seus filmes produzidos na década de 1950 ainda sejam crivados por um tantinho de esperança, mas o que vi em “Juventude” mexeu pessoalmente comigo: uma bailarina de 28 anos (“com corpo de 18, mas rosto de 45”) está ansiosa durante o ensaio definitivo de uma peça tchaikovskiana. Subitamente, ela recebe um diário antigo, escrito por um amor de juventude, falecido num contexto acidental lamentável. Antes que saibamos em quais condições o encantador Henrik (Birger Malmsten) falecera, somos cúmplices da personagem principal no doce interlúdio de verão que compartilha com seu amado, desde o momento em que eles se conhecem no barco até os instantes em que a necessidade constante de ela ensaiar seus passos causam os primeiros lastros no casal. Proíbo-me, aliás, de seguir em frente na exposição de eventos do enredo, a fim de não prejudicar o deslumbre de quem ainda não viu o filme, mas, insisto: é lindo, como nem mesmo o próprio Ingmar Bergman havia realizado antes e depois disto!

Diante do filme, lembrei de eventos marcantes de minha própria vida, questionei o quanto eu seria digno de relembrar aqui a minha própria juventude, rememorei situações passionais de minha existência que foram tragicamente interrompidas mas que não foram lancinadas pelo arrependimento. Neste sentido, insisto que o filme é feliz. Não resignado, não conformado, não otimista (palavra intimidadora), mas... Feliz! E isto vale muito a pena, vindo de quem veio...!

Wesley PC>

Um comentário:

tatiana hora disse...

realmente é uma surpresa imaginar um filme assim do Bergman.
preciso assistir.