sexta-feira, 2 de julho de 2010

QUEM AMA O FEIO, BONITO LHE PARECE – PARTE II

“Eu quero que tu me ajudes. Ou que transes comigo. Ou melhor, que me ajudes transando”.

Não almocei ainda. São quase 15h e não sei bem o porquê de eu não ter sentido fome, mas o fato é que desde a tarde de ontem que eu não como nada substancial. Não por acaso, vi hoje um filme espanhol mui gracioso de nome “Gordos” (2009, de Daniel Sanchez Arévalo). Com este filme, tencionava eu relatar experiências pessoais sobre a modificação receptiva na apreciação de certos padrões externos de beleza física, mas fui golpeado por um roteiro extremamente sensível que trouxe-me à tona reflexões ético-integrativas mais gerais. Tencionava falar sobre alguém, mas creio que falarei sobre mim mesmo. Mesmo que eu saiba que, quando falo dos outros, falo também – e muito – sobre mim mesmo!

Na trama, as vidas de algumas pessoas transitam em torno de um terapeuta nutricional, que passa a enfrentar graves crises matrimoniais depois que desenvolve um estranho asco por sua esposa quando esta engravida e fica com os seios inchados: um garoto-propaganda de pílulas para emagrecimento que deixa seu sócio em coma após uma briga e se apaixona pela esposa dele, mesmo sendo ‘gay’; uma carola que descobre os prazeres do sexo antes do casamento, mas passa a ser repreendida por seu noivo católico e hipócrita depois que emagrece; um pai de família gordo, casado com uma esposa gorda e amável, que possui dois filhos gêmeos (um magro e a outra gorda) em perene conflito familiar; e uma executiva que é abandonava pelo namorado quando este chega de viagem e a encontra acima do peso. Diversos outros dilemas menores e bem-humorados somam-se a estas definições personalísticas, sendo que, no saldo geral, o tom do filme é sempre positivo, nem otimista, nem pessimista, nem condescendente: realista e simpático, apenas. E, hoje em dia, isto é muito!

Já tinha me surpreendido bastante com o filme anterior do Daniel Sanchez Arévalo, “Azul Escuro Quase Preto” (2006 – vide texto elogioso aqui) e não tinha guardado muita expectativa apreciativa sobre este filme. O que eu cria que me fisgaria no mesmo (as possibilidades hermenêuticas e sentimentais vinculadas a um mocinho belíssimo que é acusado por alguns de meus amigos de estar “acima do peso”) terminou secundarizado em função da simpatia dos personagens, da leveza do roteiro e de minha conscientização de que preciso comer e de que obesidade e feiúra definitivamente NÃO são sinônimos, ao contrário do que a indústria da mídia faz alguns pensarem!

Wesley PC>

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