domingo, 4 de julho de 2010

“PARA MIM, SÓ EXISTE SALVAÇÃO NA BOCETA E NA CANNABIS: PODE ESCREVER ISSO NO MEU TÚMULO!”

Logo no começo, esta frase, algumas comparações entre a programação do Cinemark em Aracaju e Cinemark em São Paulo ou Belo Horizonte, e o meu próprio estado de espírito confuso por causa do modo hostil como fui tratado quando fui pedir a um vizinho que assistisse a este filme comigo, tendiam a fazer com que o meu parecer sobre o mesmo fosse demasiado espalhafatoso. Mas o filme me surpreendeu. E eu precisei de alguns minutos de silêncio para me sentir apto a falar qualquer coisa sobre ele...

(...) – SILÊNCIO

No viés publicitário, este filme é vendido como um triângulo amoroso que se forma entre três estudantes universitários: um é estudante de Medicina (Caio Blat), usuário de várias drogas e despolitizado, não obstante repetir com insistência o jargão que intitula o filme; o outro (Alexandre Rodrigues) é estudante de Ciências Sociais, melhor aluno da classe, crente de que precisa sempre “provar que é o melhor” porque é negro e apaixonado por sua namorada; que é a outra, aquela que se interpõe bem-intencionadamente entre os dois amigos (Maria Flor), que é estudante de Arquitetura, que se dá bem com os pais e que entra em contato com um choque de classes e injustiças sociais que, até então, não atrapalhava o seu embasbacamento diante de algumas construções arquitetônicas do Rio de Janeiro. Para mim, era suficiente!

Para além deste triângulo amoroso sutil, o filme é vendido como um despertar consciencioso por parte dos três protagonistas, visto que um deles, o que estuda Medicina, afeiçoa-se a uma paciente leucêmica com quem divide cigarros de maconha e promete ajudá-la a rever os filhos, sem saber que um deles foi morto e que o outro está sendo procurado pela Polícia. Para mim, isto não era suficiente!

Entre o triângulo amoroso que se instaura e a consciência social forçosa dos protagonistas, que também serve como uma válida crítica à falibilidade prática do que é ensinado nas universidades (e que seria o ponto que eu abordaria com mais ênfase, se não fosse surpreendido por outros aspectos qualitativos do mesmo), o filme prova-se como um inteligente petardo contra a decadência institucional que faz chafurdar os projetos de assistência social não somente no país em que vivemos, mas no mundo capitalista como um todo. Digo mais: antes de o filme começar (foi exibido na TV Brasil, às 23h41’ deste sábado), foi exibida uma entrevista com o presidente Luís Inácio Lula da Silva, que explicava o quanto é importante transformar os habitantes de países pobres como Guiné-Equatorial ou Angola em consumidores. “Os empreendedores não percebem que, ao fazer com que os habitantes destes países possam circular num ‘shopping center’, isto fará muito bem aos países ricos”, disse o presidente. E eu quedei espantado com a crueldade da lógica mercadológica que ele apregoava como positiva...

“Proibido Proibir” (2006, de Jorge Durán) é um filme impressionante! Não parecia, mas é. E, como tal, faria muito bem se fosse exibido no mesmo ambiente universitário que fustiga. Mas, como o roteiro pessimista/realista do mesmo ensina-nos que “pedir demais do Governo” pode ser tão ou mais insensato que se esbaldar com LSD durante uma aula de Anatomia, consolo-me ouvindo a música que tão bem metonimiza as esperanças naufragadas dos protagonistas em pontos cruciais do filme, “Juízo Final”, de Élcio Soares e Nelson Cavaquinho:

“O sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações
Do mal, será queimada a semente
O amor será eterno novamente

É o Juízo Final, a história do bem e do mal
Quero ter olhos pra ver, a maldade desaparecer”


Quem me dera ter estes olhos...!

Wesley PC>

Nenhum comentário: