quinta-feira, 29 de julho de 2010

FINALMENTE, EU O (OU)VI!


“Vocês ainda não ouviram nada!” tornou-se uma expressão muito divulgada depois da estréia de “O Cantor de Jazz” (1927, de Alan Crosland), oficialmente “o primeiro filme falado da História do Cinema”. Falado, inclusive, é termo forte. O filme é cantado (tem 5 ou 6 canções entremeadas à trama muda), mas é conduzido de forma muito preguiçosa por seu diretor. É unanimemente tachado de filme mediano, não obstante sua fama enquanto pioneiro técnico. Vi-o, finalmente, na manhã de hoje e uni-me à unanimidade: o filme é deveras mediano!

Para além desta mediania, entretanto, seu roteiro possui elementos polêmicos dignos de menção escandalizada nesse texto. Vários! Antecipo-os através de um resumo: o protagonista do filme surge em cena aos 15 anos de idade, como o futuro executor dos ideais hereditários de seu pai rabino. Um judeu deveras ortodoxo flagra-o cantando músicas de ‘ragtime’ e o denuncia a seu pai, que o expulsa de casa, dizendo que não tem mais filho, para extrema consternação de sua mãe. Anos depois, este protagonista tem a oportunidade de ascender no mundo dos espetáculos, pintando-se de negro para tal. Uma dupla conjunção de preconceitos se instaura quando o pai dele adoece justamente quando ele se prepara para sua estréia na Broadway. O restante, só para quem tiver coragem de ver o filme...

O porquê de ele ter me intrigado/chateado tanto: 1 – o embate entre pai e filho tornou-se um dos mais violentos clichês hollywoodianos ao longo dos anos; 2 – o embate entre preconceitos pró-judeus e contra negros torna-se deslavadamanete atroz à medida que o filme evolui (tanto que, em dado momento, um dado personagem alega estar falando com a sombra do protagonista quando o encontra coberto de tinta preta); 3 – o somatório entre os dois tópicos anteriores descamba para uma terceira observação preocupante: o tom nojosamente impositivo pseudo-modernizador, conforme atestado no intertítulo destacado, utilizado como resposta do filho ao pai, que não entende que ele queira seguir um destino musical diferente do que ele vislumbrava há cinco gerações... Como isso me emputeceu! Como isso me decepcionou... Esperei tanto tempo para ver este filme (suspeitando, inclusive, que ele fosse assim), mas...

Mas...

Mas...

É isso: nem sempre Estética e História se coadunam com nossos desejos!

Wesley PC>

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