sábado, 31 de julho de 2010

CARTINHA [A NÃO SER ENTREGUE POR DESVIO DE INTERESSES]

São Cristóvão, 31 de julho de 2010.

Prezado destinatário,

Neste momento, tu já deves estar em casa, olhando as mangueiras e os milharais que se esgueiram por tua janela. Se eu fosse outra pessoa e gozasse de melhor apreço, talvez pudesse te perguntar se foste bem de viagem, se dormiste a contento na noite de ontem, se realizaste com precisão as lições de inglês a que tu agora te dedicas. Como não posso me dar a este luxo, não obstante indicar-me alguns exemplos similares no que se refere ao trato das pessoas eletivas que gozam de tua afeição jactante e gozo ao anunciar que esta manhã de sábado me parece bem aproveitada no que se refere aos rendimentos empregatícios que tanto me entulham ao longo da semana. Como é bom trabalhar sem ouvir gritos! Como é insatisfatório estar num lugar em que tua presença seja apenas emanada...

Para o bem ou para o mal, os meus dizeres não serão transcritos, não serão enviados, permanecerão difusos nesta engrenagem ambivalente que se adianta aos movimentos cibernéticos que agora executo. Em meu íntimo, um sorriso: graças a uma resposta afirmativa de tua parte, em relação a uma pergunta de cunho estritamente profissional, pude dizer que te amava num contexto que em muito ultrapassa as minhas permissões tacitamente declaradas enquanto conviva forçado dos meandros acadêmicos. Quem me dera ter o poder de deixar realmente o não-dito pelo não-dito. Mas não o tenho. Jamais o terei...

Atenciosamente (por falta de advérbio melhor),

O remetente.

Wesley PC>

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