sábado, 12 de junho de 2010

ESTAR AO LADO DO POVO E PERCEBER QUE O POVO SOMOS NÓS: EIS O DESAFIO!

Assim, meio que por acidente, vi o curta-metragem “Começo” (1967), do armênio Artavazd Peleshian, antes de dormir. Nunca tinha visto nada deste cineasta, mas o mesmo já era valorizado em conjunto por alguns eruditos sergipanos. No filme em si, vemos uma interessante recapitulação visual do que foi a Revolução Russa de 1917 e alguns de seus efeitos no mundo, culminando na imagem impressionante de uma menina comum, uma menina que poderia ser qualquer um de nós. Não sei se entendi bem o filme, mas fiquei impressionado!

Quando eu escrevo aqui o termo “impressionado”, sou sincero e eufêmico ao mesmo tempo. Sincero, porque não tem como sair daquela sessão cinematográfica sem ao menos uma impressão construída sobre o que se descortina diante de nossos olhos; e eufêmico porque o termo é incapaz de exprimir realmente o que senti. Motivos: no dia de ontem, tive uma boa conversa ao meio-dia sobre alguns de meus reincidentes preconceitos inconscientes (e vergonhosos, deixo claro) sobre alguns conceitos de “povo” que uma pretensiosa cultura de massa elitista incutiu em meus juízos de valor cultural. O oxímoro na expressão é proposital: elitismo hoje em dia é também alimentado (e muito) pela cultura de massa, que assim fomenta a higiene demográfica oportunista (leia-se genocídio espectatorial) do dia-a-dia, fomentação esta que não foi somente percebida por mim, mas pelo meu interlocutor matinal e por um amigo bancário à noite, que postou um texto sobre o quanto lhe incomodava ser incomodado pelo analfabetismo alheio. Já tive o doloroso contato com uma analfabeta na UFS (a mãe de uma aluna que estava doente e pediu que esta desse entrada em seu processo de amparo legal sob atestado médico) e, caramba, como senti vontades de pedir desculpas naquele dia por ter reagido quando aquela mulher foi bruta comigo quando eu insisti para que ela preenchesse um formulário, sem que eu soubesse que ela não sabia ler e muito menos ela admitisse isso inicialmente. Fora a primeira vez em minha vida que eu me deparava pessoalmente com alguém analfabeto – e doeu!

Olhando com precisão a derradeira imagem do filme do Artavazd Peleshian, que eu talvez precise ver em grupo e discuti-lo para compreender adequadamente o que ele quis me transmitir, percebo que a tal menina assemelha-se bastante a uma moça que estampou uma das campanhas da igreja católica em prol da erradicação do analfabetismo no Brasil, o que me fez lembrar de um exemplo contado em sala de aula, quando uma professora me disse que uma das meninas analfabetas amparadas pela tal campanha foi descoberta por um olheiro de modelos e hoje virou uma ‘top model’ fundadora de ONG. Eu gani ao consumir esta informação sem o devido processamento. Ainda tenho muitos preconceitos dentro de mim. Isto é mau, isto me envergonha!

O que me redime em todo este processo é que toda esta vergonha, toda este incômodo, faz com que eu gradualmente perceba que “povo” é algo muito diferente do que a Indústria Cultural me ensinou a temer ou odiar e que este conceito diz respeito a “eu e tu juntos” (vulgo: nós!), realizando atividades para o nosso bem pessoal e para o bem comum, ao mesmo tempo. Povo é isso! King Vidor só veio me confirmar pela manhã!

Wesley PC>

Um comentário:

A. Everton Rocha disse...

é triste ver o próprio povo como base desse sustentáculo de egoismo elitista que se apresenta arraigado e profundo. Quero ter uma obstinação maior que tudo isso. Conseguirei? Não sei, apenas tento.

p.s queres me seguir?

um abraço