segunda-feira, 14 de junho de 2010

COMO ASSIM? QUER DIZER QUE AS PESSOAS NÃO SÃO PERFEITAS? NEM OS FILMES? E ISSO É BOM?

Tudo aconteceu de uma vez só, portanto o raciocínio seguirá de maneira troncha mesmo: hoje à tarde, eu finalmente vi “Mary e Max – Uma Amizade Diferente” (2009, de Adam Elliot) no computador do trabalho. Sentia frio, estava doente. Uma amiga que me viu tremendo durante a sessão perguntou se não era o conteúdo dramático do filme que estava a me deixar daquele jeito. Ao término da sessão, havia lágrimas no teclado numérico do computador. Às 16h15’, tive que ir para casa. A dor era forte. Precisava me deitar!

No momento exato em que escrevo estas palavras, parece que há uma furadeira na minha testa, mas é mister aproveitar este momento de dor física para avaliar os efeitos consoladores da observação conscienciosa acerca da dor psicológica no filme, observação esta, que num momento de suicídio é metonimizada através da canção “Que Será, Será”, vencedora do Oscar de Melhor Canção Original pelo filme “O Homem que Sabia Demais” (1956, de Alfred Hitchcock), do qual foi tema. Dentre tantos filmes que poderiam ser referenciados, logo este? E se eu dissesse que, por mera coincidência, dei de presente este filme à pessoa que, em troca me passou o filme ora resenhado, teria o direito de dizer que estou isento de culpa por choramingar os meus lamentos identificados no roteiro? Tomara que sim...

Difícil escolher por onde começar a falar sobre este filme. Segundo meus próprios interesses analíticos, talvez seja necessário destacar que ele é imperfeito. Que ele falha. Que ele poderia ser bem melhor do que é, mas não foi. E isso é bom!

Para quem não sabe, o filme é basicamente o registro das correspondências fortuitas entre uma solitária garotinha australiana e um obeso judeu norte-americano. Ela vive acossada entre as humilhações que seus colegas de escola a fazem passar, o isolamento de seu pai e o alcoolismo de sua mãe cleptomaníaca; ele lamenta que as pessoas sejam descuidadas em relação a onde depositam o lixo, é viciado em receitas inventadas com chocolate e não consegue mais acreditar em Deus.À medida que os anos se passam e as cartas são trocadas, cada um dos dois vai se sentindo melhor, vai descobrindo que tem um amigo em algum lugar. “Graças a Deus, ainda podemos escolher os amigos”, diz a moral do filme em dado momento.

Talvez o que mais tenha me fisgado de imediato foi a reação de pânico patológico que o obeso Max desencadeia quando começa a ler as cartas de Mary. Inocentemente, ela pergunta sobre situações que são traumáticas para Max, ao que “ele reage do único modo que sabia”: quedar-se tremendo sobre uma cadeira no interior de seu apartamento. Ao perguntar sobre os dilemas básicos da vida (Exemplo: “nos EUA, os bebês nascem em latas de Coca-Cola?”), Mary faz com que Max saia da manutenção ostensiva de sua própria fragilidade e mergulhe num território de instabilidade, que é positivo, indispensável, mas dói até que seja devidamente compreendido. Até o final do filme, alguém pedirá desculpas. Outrem dirá que alguém tem o direito de ser perdoado.

Para além da inebriante premissa enredística básica do ótimo roteiro de Adam Elliot, foram os pequenos detalhes que me encantaram: o amontoado de mortes culposas de peixes-dourados, o caracol deficiente que foi batizado como Stephen Hawking, a confusão terminológica entre agorafobia e homofobia, a tristeza e a concomitante necessidade de sorrir que assola ambos os personagens... Mas o que me fez mesmo deixar aquelas lágrimas no teclado numérico do computador de trabalho onde vi o filme foi a assunção de que as pessoas não serem perfeitas não é necessariamente um problema. Isso é bom. Desde que, obviamente, saibamos pôr em prática, de forma obviamente não egoísta, um ensinamento básico: “ame a si mesmo primeiro”! Eu amo...

Wesley PC>

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